Quem nunca ouviu falar em Pikachu, Charmander e Squirtle, prepare-se. Os monstrinhos do desenho animado japonês “Pokémon”, sucesso infantil na década de 1990, estão de volta em “Pokémon Go”. O jogo para smartphone virou febre em poucos dias, batendo recordes globais de downloads e elevando as ações da Nintendo em 64%. Um feito e tanto considerando que o game, até o momento, só foi lançado nos EUA, na Austrália e na Nova Zelândia. Os fabricantes ainda não informam quando chegará a outros países, como o Brasil.
A novidade é um dos assuntos mais recorrentes na imprensa mundial desde o lançamento, semana passada, principalmente por causa da forma como se joga. Normalmente, quando um game se torna viral, seus adeptos passam dias sem sair de casa, absorvidos pelo novo passatempo. Mas “Pokémon Go” teve efeito contrário. O game usa realidade virtual associada ao sistema de localização por satélite (GPS) para espalhar pokémons pelas cidades. O objetivo é colecionar os monstrinhos, que só podem ser visualizados e capturados com o smartphone.
Desde que o jogo veio a público, tem sido um tal de gente andando distraída pelas ruas, com os olhos grudados no celular, à procura dos bichinhos. A ponto de a polícia de Melbourne, na Austrália, emitir um alerta pedindo às pessoas que prestem atenção em riscos reais, como carros passando e obstáculos na calçada. Já a polícia de Goochland, no estado americano da Virgínia, se viu forçada a avisar que o jogo não é desculpa para entrar na propriedade alheia sem autorização. Até o Museu Memorial do Holocausto dos EUA, em Washington, foi “invadido” por adeptos do game, ao que o diretor da instituição reagiu dizendo que “jogar ‘Pokémon Go’ num memorial dedicado a vítimas do nazismo é extremamente inapropriado”.
Nesta terça, o Museu Memorial de Auschwitz, na Polônia, proibiu os visitantes de usar o aplicativo dentro das dependência do antigo campo de extermínio dos nazistas. De acordo com a instituição, que divulgou a decisão no Twitter, trata-se de uma atitude “desrespeitosa em muitos níveis.”
Nos três países onde já está funcionando, o game alcançou o topo das listas de aplicativos mais baixados. De acordo com a consultoria SimilarWeb, em apenas três dias “Pokémon Go” já estava instalado em mais de 5% da base de smartphones Android dos EUA, superando o maior aplicativo de namoro do mundo, o Tinder. O game também já compete com o Twitter em número de usuários ativos. Todo esse furor fez o valor de mercado da Nintendo saltar cerca de US$ 7,5 bilhões em dois dias, segundo a agência de notícias Reuters.
Após o lançamento nos EUA, jogadores de vários países, inclusive do Brasil, conseguiram se divertir por algumas horas, mesmo sem o título disponível nas lojas de aplicativos oficiais. Mas devido a uma demanda absurda, os servidores da produtora Niantic Labs, desenvolvedora do game, caíram no primeiro dia de funcionamento, o que levou a empresa a restringir o acesso aos países onde o app já opera efetivamente. O engenheiro químico Renato Ferreira, de 29 anos, foi um dos que sentiram o gostinho de “Pokémon Go”.
— Eu criei uma conta no iTunes da Austrália e consegui jogar um pouco — conta Ferreira. — Durou um dia, mas o servidor caiu e, quando voltou, já tinha mudado. Dá para abrir o jogo, mas aparece apenas o boneco do treinador, sem nenhum pokémon para capturar.
O game se baseia na franquia de mídia, criada em 1995 por Satoshi Tajiri, sobre criaturas chamadas pokémons (abreviação de “pocket monster” ou monstro de bolso), que são capturados e treinados por humanos para lutarem entre si. O primeiro produto foi um jogo para o console portátil Game Boy, da Nintendo, mas a franquia é mais conhecida pela animação que elevou personagens como Pikachu e seu treinador, Ash Ketchum, ao estrelato.
— A franquia é muito forte. Todos os jogos de pokémon já lançados deram certo — avalia Danilo Parisi, diretor de Marketing da produtora Sioux. — E “Pokémon Go” traz a possibilidade de interação com a realidade aumentada. Esses fatores fizeram do jogo um sucesso instantâneo.
Para Rogério Gomes, diretor de Estratégia da Associação Mundial de Desenvolvedores de Games, há um ingrediente psicológico para o sucesso meteórico:
— O ato de colecionar é inerente ao ser humano e mexe com o sistema psicológico de recompensa do usuário.
Fundador da Brasil Game Show, Marcelo Tavares avalia que o êxito com o “Pokémon Go” pode estimular a Nintendo a investir na produção de novos jogos para dispositivos móveis, usando outros personagens conhecidos.
— O movimento de se voltar para o mobile provou dar certo. A Nintendo é dona de franquias de sucesso, como Mário e Zelda, e pode trabalhar com o público que já conhece esses personagens.
Mas não apenas os produtores faturam. Um café em Atlanta, nos EUA, localizado entre dois “pokéstops“ (pontos onde os jogadores podem ganhar itens úteis no game) resolveu usar o jogo para atrair clientes. A ação de marketing, criada pela agência Huge, custou US$ 49 em “incensos” (item virtual usado para atrair pokémons). Para mensurar o sucesso da campanha, o café oferece um cartão que vale um pão grátis para cada cliente que mostrar a foto de um pokémon capturado dentro do estabelecimento.