Pesquisa mostra que pessoas nascidas a partir de 1995 se preocupam pouco com a previdência
Há aproximadamente dois anos, o sistema previdenciário brasileiro passou por mudanças importantes. Entre elas, destaca-se a fixação da idade mínima para se aposentar: 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres. Com as novas regras para o Regime Geral (setor privado), o caminho para a aposentadoria ficou mais longo para os brasileiros.
A Reforma da Previdência no Brasil gerou diversos debates na sociedade e despertou uma preocupação com o futuro dos jovens da geração Z que, segundo pesquisas recentes, se preocupam pouco com o futuro financeiro. Fazem parte desse grupo pessoas nascidas entre 1995 e 2010.
Um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e divulgado pelo site Valor Investe mostra que 75% dos jovens da geração Z não se preparam para a aposentadoria. A pesquisa ocorreu em 2019, meses antes da promulgação da reforma previdenciária e, portanto, anterior à pandemia do coronavírus.
Feito em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o estudo aponta que, entre os entrevistados, apenas um em cada quatro jovens reserva dinheiro ou investe visando a aposentadoria.
Falta de dinheiro e educação financeira
A pesquisa buscou compreender junto aos jovens os motivos dessa baixa preocupação com a previdência. Ao todo, 78% afirmaram ter algum tipo de renda, porém 27% relataram não ter dinheiro o suficiente para investir na aposentadoria, enquanto outros 27% disseram ser muito jovens para se preocupar com o assunto.
Ainda de acordo com o estudo, 24% desses brasileiros justificaram que não sobra dinheiro para investir na aposentadoria, enquanto 21% apontaram que não sabem como fazer investimento na previdência.
Os dados retratam uma realidade brasileira em relação à educação financeira. É provável que haja uma correlação entre essa falta de preocupação com a aposentadoria e o conhecimento sobre finanças.
Para o economista Flávio Vasques Júnior, do Boston Consulting Group, o fato de a juventude brasileira não pensar na aposentadoria está muito associado à questão familiar e cultural. “Em parte, os jovens não aprenderam com os pais a pensar e investir na aposentadoria. Além disso, há uma cultural nacional ainda muito dependente do Estado”, observa.
Ele também aponta para a ausência da educação financeira tanto nas escolas quanto nos ambientes familiares. “Criar desde cedo o hábito de investir primeiro antes de consumir, evitar as armadilhas de alto endividamento e ter uma aposentadoria confortável são iniciativas simples que se aprende com educação sobre finanças”, afirma.
Imediatismo influencia a falta de planejamento
Para além da educação financeira, é importante considerar a questão das características dessa geração que nasceu imersa na tecnologia e no universo digital. Toda essa velocidade nos fluxos de informações e interações no ambiente online tornam esses indivíduos altamente conectados ao espaço virtual e cada vez mais ágeis em suas atividades e desejos cotidianos.
Entre as características dos jovens da Geração Z está o imediatismo, comportamento que joga contra as boas práticas financeiras e de investimento no futuro. Esse tipo de pensamento resulta na falta de planejamento econômico e pode ser um problema que o País enfrentará nas próximas décadas.
“Investir desde cedo permite ao jovem maximizar o efeito dos juros compostos no longo prazo. Com isso, os aportes mensais podem ser menores e o capital acumulado para custear a aposentadoria pode ser maior”, explica o economista.
Para ele, quanto antes e com mais planejamento o jovem começar a investir na previdência, melhores serão suas condições e retornos financeiros no futuro.
Desemprego e informalidade
Em relação ao cenário atual no País, Vasques Júnior chama atenção também para o problema do desemprego e da informalidade, que impõe uma série de questões preocupantes para o futuro da sociedade.
“Os altos índices de desemprego e informalidade geram incertezas no longo prazo para a economia e criam instabilidade na poupança dos trabalhadores para a aposentadoria”, afirma.
O Brasil registra hoje mais de 14 milhões de desocupados e mais de 34 milhões de trabalhadores sem carteira assinada, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse cenário indica que uma parcela significativa da população brasileira não está aplicando nenhum tipo de recurso visando a previdência, tanto no sistema público quanto na esfera privada.
“Como essas pessoas não conseguem ter períodos de estabilidade financeira, elas passam a se preocupar apenas com o consumo corrente e deixam de poupar para o longo prazo”, pontua o economista.
Dicas para investir na aposentadoria e ter mais segurança no futuro
Diante dessa realidade, um dos meios mais eficazes para despertar os jovens a pensar mais no futuro em relação às finanças é a educação financeira. O conhecimento é importante para quebrar tabus e aproximar as pessoas das boas práticas econômicas.
Além do mais, a educação financeira pode mostrar as diferentes formas de investir, como a Previdência Social, a previdência privada, as carteiras de investimento e o empreendedorismo.
O economista Flávio Vasques Júnior aconselha os jovens a começar a pensar no futuro hoje. “Comece agora a poupar, crie o hábito de investir primeiro para depois consumir. Invista no mínimo 10% da renda líquida”, indica.
Nesse sentido, vale a pena buscar informações confiáveis sobre educação financeira, continuar contribuindo com a Previdência Social, investir na previdência complementar e procurar outras formas de investimento para fazer o dinheiro render no futuro.