Foi por meio das melhorias proporcionadas pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), que o produtor de ovinos Sebastião Hable sentiu-se preparado para abrir a Cabanha Tarumã, em Mafra, no norte catarinense. Produtor de ovelhas de corte há 20 anos, junto com a esposa Roseli do Carmo Hable, possui 30 matrizes com cruzamento comercial, 19 matrizes P.O raça Dorper e um macho reprodutor P.O também da raça Dorper.
“Sentíamos falta de conhecimento, organização e avaliação do rebanho, além de problemas de verminose em nossos animais. Por meio das visitas muita coisa melhorou com o aprimoramento de técnicas de manejo e alimentação. Fomos estimulados a produzir a ração que oferecemos aos animais e isso só nos trouxe ganhos”, conta o produtor.
De acordo com o técnico de campo César Henrique Peschel Júnior o trabalho da assistência técnica e gerencial busca orientar e incentivar os produtores de ovinos para que produzam animais diferenciados e que proporcionem ao mercado uma carne de alta qualidade. Ao todo, o programa atende 2.124 matrizes de ovinos somente em Mafra. “Tudo isso é feito de maneira sustentável, utilizando técnicas que não aumentam os custos de produção e também sem a necessidade de grandes investimentos a curto prazo. O nosso foco principal é gerar lucro aos produtores, agregando valor ao produto final, aumentando a escala de produção e reduzindo os custos”, explica.
A ATeG em ovinocultura de corte conta com três turmas, duas na região norte do Estado nos municípios de Mafra e São Bento do Sul e uma em Fraiburgo no meio oeste catarinense. “São atendidos 75 produtores rurais que recebem assistência técnica associada à consultoria gerencial contribuindo para uma gestão sustentável e lucrativa das propriedades”, destaca o presidente do Sistema FAESC/SENAR-SC, José Zeferino Pedrozo.
O coordenador estadual do programa e vice-presidente da FAESC, Antônio Marcos Pagani de Souza, esclarece que o programa iniciou no segundo semestre de 2016 e durante o período de dois anos os produtores rurais receberão visitas mensais de quatro horas. “O programa está fundamentado em cinco etapas. A primeira foi o diagnóstico produtivo individualizado de cada propriedade. Na sequência os produtores passaram pelo planejamento estratégico e, agora, estão na adequação tecnológica e capacitação profissional complementar. Ao final dos dois anos, será efetuada uma avaliação sistemática dos resultados alcançados”.
De acordo com o superintendente do SENAR/SC, Gilmar Antônio Zanluchi, os técnicos de campo repassam aos produtores as metodologias sobre cálculo de custos de produção, indicadores da propriedade e, principalmente, análise de dados para o planejamento estratégico conforme os pontos fortes e fracos de cada propriedade. “Todos os dados levantados são lançados em um software utilizado nacionalmente e que abriga informações gerenciais das propriedades de todo o País. “Com essas informações é possível fazer comparativos e tomar decisões mais assertivas”.
Além das visitas técnicas e gerenciais, os produtores têm acesso a treinamentos e palestras a fim de aprimorar e atualizar conhecimentos com relação à produção de ovinos. “Participamos de visitas em outras propriedades de criadores de ovinos e isso também nos auxilia a identificar os pontos fortes e fracos de nossa propriedade, possibilitando a implantação de melhorias”, avalia Hable.
O trabalho na propriedade de Hable é totalmente familiar. O produtor conta com a importante ajuda a esposa Roseli que auxilia principalmente na organização, monitoramento e acompanhamento dos relatórios gerenciais feitos pela ATeG, além de colaborar nos partos dos animais. “Somos apenas os dois na propriedade. As atividades são feitas em conjunto”, relata Roseli.
QUESTÕES SANITÁRIAS
O técnico de campo explica que entre as principais dificuldades encontradas em algumas propriedades estão as de ordem sanitária, principalmente no que diz respeito às verminoses. “É um problema comum em propriedades de ovinos. Isso ocorre pelo uso incorreto de vermífugos quando é feita a desverminação com frequência acima do que é indicado e com o uso de um vermífugo que não exerce o efeito adequado”.
César ressalta que a verminose é um dos principais fatores que limitam a criação de ovinos, principalmente por apenas aproximadamente 10% dos parasitas estarem nos animais o restante nas pastagens, por não existir um vermífugo 100% eficaz, e pela alta resistência desses parasitas nas pastagens, podendo permanecer vivos nelas por meses.
De acordo com o técnico, nas propriedades com problemas de verminoses foi introduzida a técnica Famacha ® que tem como objetivo identificar clinicamente animais com diferentes graus de anemia em decorrência da infecção. O método é baseado no princípio da relação entre coloração da mucosa conjuntiva ocular e do grau de anemia e permite identificar os animais que suportam a infecção de parasitas.
“A mucosa ocular dos animais deve ser observada periodicamente para identificar a necessidade ou não de sua vermifugação. O exame compara a tonalidade da mucosa conjuntiva e auxilia na determinação de grau de anemia nos ovinos. Com base nisso são vermifugados apenas os animais que apresentam anemia clínica por verminose”, esclarece o técnico de campo.
Segundo ele, os testes proporcionaram a identificação do vermífugo que tem uma eficiência melhor diminuindo os gastos com medicamentos e, consequentemente, melhorando as condições sanitárias do rebanho.
Hélinton Kovalski produz ovinos há dez anos. Segundo ele, com a ATeG encontrou uma oportunidade de melhorar a produção. “Em cada visita é possível sanar novas dúvidas e identificar o que é necessário fazer para otimizar a produção. Com as visitas foi possível fazer um diagnóstico preciso da saúde dos animais inclusive realizando a vermifugação correta reduzindo as perdas”, avalia.
O produtor considera as visitas fundamentais para orientar com informações importantes e atualizadas que colaboram para o crescimento e desenvolvimento das propriedades. Kovalski possui 50 matrizes de ovinos e conta com dificuldades em relação ao abate em decorrência da legislação. “Contamos com a prestação de serviço de um frigorífico que nos auxilia no abate, mas nós mesmos que efetuamos a comercialização da carne”, destaca.
Ao fim dos dois anos, o produtor espera que as visitas técnicas e gerenciais tenham colaborado para que a cadeia produtiva esteja funcionando em sintonia desde o nascimento do cordeiro até a entrega do produto final no supermercado. “Com as dicas que recebemos acredito que melhoraremos muito a nossa produtividade e também a rentabilidade”, complementa Kovalski.
AVANÇOS
A supervisora do SENAR/SC na região norte Carine Weiss acompanha o trabalho da ATeG nas propriedades rurais. Segundo ela, vários foram os avanços observados tanto na parte gerencial com a consciência dos produtores sobre a importância de uma gestão organizada, como na parte genética com o melhoramento genético dos rebanhos, o que oportunizará aos produtores ganho na qualidade dos animais no decorrer dos anos. “Além disso, é perceptível o avanço nas questões sanitária e reprodutiva. Todo o acompanhamento detalhado que é feito está contribuindo para gerar melhorias na qualidade da produção e também na renda das propriedades que tende a ser cada vez maior”, analisa.
O produtor Adilson Eckel iniciou na produção de ovinos como um hobby, mas com o tempo o que parecia ser apenas para diversão tornou-se sério e resultou, após dez anos de criação, um rebanho de 110 matrizes. Eckel conta que resolveu participar do programa em busca de melhorias na criação e na obtenção de mais lucros com o objetivo de investir em melhoramento genético e cruzamento industrial para um acabamento melhor de carcaça para o consumidor.
“As visitas são de grande importância. O técnico nos repassa as melhores maneiras de fazer com que a atividade da ovinocultura se torne rentável. Antes de iniciar a ATeG não fazíamos estação de cria e deixávamos os carneiros o ano todo com as ovelhas não conseguindo ter controle de nascimento. Hoje, após as orientações que recebemos, todas as ovelhas são repartidas em lotes e efetuamos os cruzamentos por estações aumentando, assim, a reprodução”, relata o produtor.
Com o programa Eckel pretende conseguir organizar sua propriedade para alcançar o objetivo de criar mais animais por hectare de área através da implantação de um sistema de irrigação. No que diz respeito à comercialização da carne, o produtor conta que o abate é feito em um frigorífico do município de Canoinhas e, posteriormente, as carcaças são direcionadas para os mercados e casas de carnes da região com a nota de produtor rural.
O presidente do Sindicato Rural de Mafra João Romário Carvalho acompanha mensalmente as propriedades atendidas pela ATeG e afirma que as mudanças ocasionadas pelo programa são visíveis. “A receptividade dos produtores está sendo ótima, é perceptível os avanços na produção, principalmente no que se diz respeito à sanidade, fertilidade e nutrição dos animais. A reprodução de ovinos ocorre de maneira mais rápida do que em bovinos, por exemplo. A gestação dura seis meses e após seis meses de nascidos os animais já podem ser abatidos, tempo bem inferior a outros animais, o que facilita a comercialização da carne”, avalia.
Segundo Carvalho, o programa está completando um ano e alguns ovinos nasceram no período de realização da ATeG. “O técnico consegue acompanhar o período reprodutivo dos animais e identificar onde é preciso melhorar. As visitas estão colaborando muito com as pequenas propriedades haja visto que a ovinocultura não é a principal cadeia produtiva da região, mas através do programa queremos incentivar a produção e a expansão da ovinocultura de corte”, complementa.
Com o auxílio da ATeG os produtores também se organizaram e iniciaram a comercialização da carne diretamente aos mercados e casas de carne com o uso de marcas próprias. “Isso valoriza o produto e faz com que o produtor seja dono de sua mercadoria e não fique apenas na mão de terceiros para a venda dos animais”, ressalta o técnico de campo da ATeG.
A paixão de Fabiano Schultz pela ovinocultura veio de família. Há 20 anos o pai produz ovinos e há cerca de 10 Schultz resolveu investir na criação por meio da Associação Catarinense de Criadores de Ovinos. “A atividade é lucrativa, temos um plantel de aproximadamente 100 matrizes e com o auxílio da associação estamos contando com o importante suporte dado pela ATeG”, considera.
Schultz que também é presidente da Associação de Criadores de Ovinos do Município de Mafra e salienta a importância do trabalho que vem sendo desenvolvido pela ATeG para a expansão da criação de ovinos no Estado. “Com a assistência técnica e gerencial nós, produtores, temos a oportunidade de aprender e desenvolver procedimentos que auxiliam na total segurança da criação”.
REBANHO
Segundo dados da Associação Catarinense de Criadores de Ovinos, o Brasil possui um rebanho de 17,5 milhões de ovinos. A região mais produtora do País é o Nordeste com cerca de 10 milhões de animais. Santa Catarina conta atualmente com um rebanho de aproximadamente 350 mil matrizes. De acordo com o presidente da Associação Frederico Jaeger Neto, a principal região produtora do Estado é o Planalto Norte.