Para membros da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a Terapia Focal representa uma alternativa eficaz a ser considerada para pacientes selecionados.
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realizou entre os dias 18 e 21 de novembro seu 39º Congresso Brasileiro de Urologia, em Salvador (BA), no qual um dos destaques foi o painel com a apresentação sobre as Terapias Focais para o tratamento do Câncer de Próstata. O painel foi apresentado por especialistas, entre os quais o urologista do Hospital AC Camargo e membro da SBU, Stênio de Cássio Zequi, e o urologista canadense Laurence Klotz.
Ao destacar as Terapias Focais, os apresentadores se debruçaram também nos avanços, perspectivas e tendências do HIFU (sigla em inglês para High Intensity Focused Ultrassound; Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade, em português), uma técnica menos invasiva para o tratamento da doença de baixo, médio e alto risco.
Para mostrar que o HIFU está dentro do conjunto de medidas da urologia para o tratamento do câncer de próstata, foram apresentados documentos científicos que comprovam a eficiência do procedimento, que conta com estudos realizados nos mais diversos países que atestam a eficácia do tratamento para ablação da próstata e tratamento de sua neoplasia.
“O HIFU é descrito na literatura como uma opção para o tratamento do câncer de próstata, sendo considerado promissor, pois pode ser monitorado em tempo real durante a cirurgia por ultrassonografia (US). Trata-se de uma técnica que já é executada há mais de 10 ano no Brasil e que ganha cada vez mais espaço nos grandes centros cirúrgicos de diversos países, sobretudo no Estados Unidos”, diz o urologista e uro-oncologista Marcelo Bendhack, pioneiro com a técnica HIFU no Brasil.
Na apresentação do tema no Congresso da SBU, os urologistas destacaram a literatura médica pesquisada, onde se considera que o HIFU seja uma opção terapêutica fundamentada e atual no tratamento do câncer de próstata, havendo diversos artigos e estudos sobre o tratamento.
Segundo os palestrantes, a discussão da indicação dessa terapêutica deve ser realizada em conjunto com o paciente, visando o melhor custo-benefício, que também engloba avaliações sobre morbidade, mortalidade e taxas de sucesso, e recidiva.
A técnica, aprovada pela Agência Reguladora Nacional (ANVISA), descaracteriza o caráter experimental do tratamento. “Há um consenso geral de que homens com câncer de próstata de risco intermediário a alto risco de câncer de próstata são os que mais se beneficiam do tratamento ativo, enquanto aqueles diagnosticados com câncer de baixo risco podem eventualmente ser gerenciados com vigilância ativa. A esses homens são oferecidos tratamentos radicais em toda a glândula, como prostatectomia radical ou radioterapia radical. No entanto, embora os resultados oncológicos sejam favoráveis, os tratamentos radicais podem, às vezes, levar a efeitos colaterais relacionados ao tratamento, como incontinência urinária e disfunção erétil. A radioterapia também pode causar problemas retais com um pequeno aumento do risco de malignidade secundária induzida”, aponta o documento apresentado no Congresso da SBU.
Para os autores da apresentação, as terapias focais envolvem a ablação somente das áreas com câncer, o que minimiza os danos aos tecidos colaterais, como os feixes neurovasculares, o esfíncter urinário externo, o colo da bexiga e o reto. Essa estratégia de preservação de tecido não é incomum em outros cânceres de órgãos sólidos. No câncer de próstata, após estudos de fase inicial, dados de grandes estudos prospectivos multicêntricos mostraram taxas encorajadoras de controle do câncer em curto e médio prazo ao usar tecnologias ablativas focais, como o HIFU, com baixas taxas de efeitos colaterais geniturinários e retais.
O que corrobora com os dados apresentados faz coro com uma análise prospectiva realizada para comparar os resultados de controle do câncer da terapia focal com a prostatectomia radical, apresentada em 2021 [Focal therapy compared to radical prostatectomy for non-metastatic prostate cancer: a propensity score-matched study].
Ainda que sejam necessários mais estudos prospectivos multicêntricos nacionais e internacionais, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) já compreende que a Terapia Focal representa uma alternativa eficaz a ser considerada para pacientes selecionados. Isso porque as opções de tratamento para o Câncer de Próstata estão em constante evolução e essas recomendações estão baseadas à luz do conhecimento atual, ainda que reavaliações periódicas sejam obrigatórias.
“Há muitos anos sabemos que as terapias focais, como o HIFU, proporcionam controle oncológico no tratamento do câncer de próstata (CP), com os melhores desfechos oncológicos e funcionais, o que resulta em reduzidos efeitos colaterais, muito temidos por homens de qualquer idade, ou seja, a incontinência urinária e a disfunção erétil”, destaca Bendhack.
No Brasil, o HIFU foi introduzido em 2011, quando o primeiro procedimento foi realizado no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba (PR), conduzido pelo urologista Marcelo Bendhack. No mesmo ano, o A.C. Camargo Cancer Center também implementou o HIFU. Depois de 2016, outros centros passaram a adotar a técnica. Em São Paulo, no Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Nove de Julho, Hospital Moriah e Hospital Brigadeiro (SUS). No Rio de Janeiro, o HIFU foi aplicado no Hospital Pedro Ernesto UERJ (SUS).
“A conclusão final dos colegas é que o HIFU deve ser reconhecido pelo CFM. Diversos estudos e a prática clínica de urologistas do mundo inteiro atestam a eficácia da técnica. O Brasil é reconhecido em muitos campos e tratamentos médicos, no Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) como referência mundial no controle da epidemia. Por que não ser também vanguarda em um tratamento eficaz como HIFU?”, questiona Marcelo Bendhack, que durante suas atividades médicas no Departamento de Urologia da Universidade de Düsseldorf, em 1994 e 1995, acompanhou o primeiro estudo mundial para a aplicação do HIFU sobre a próstata, realizado pelo Professor Emérito Rolf Ackermann.