Há 30 anos, Florianópolis entrava para a história do surfe internacional com a realização do 1º Hang Loose Pro Contest, na praia da Joaquina, em 1986. O campeonato foi um marco para a época e recolou o Brasil no calendário do circuito mundial após o fim do Wimea 5000, no Rio de Janeiro, quatro anos antes.
Com ondas de até 10 pés (3 metros) – as melhores que a Joaca já teve, segundo os locais –, o Hang Loose reuniu uma multidão de jovens de todo o país, que vieram prestigiar os ídolos que até então só viam em revistas especializadas. Nomes como os campeões mundiais Mark Richards (tetra), Tom Carrol (bi), Shaun Tomson e Wayne Bartholomew estiveram presentes no evento, que distribuiu uma premiação de US$ 35 mil e teve o australiano Dave Macaulay como grande campeão. “Foi a primeira vez que veio toda a nata do circuito mundial ao Brasil e todos foram muito bem recepcionados por nós, que estávamos organizando, e pelas ondas, que deram um mar que nunca mais deu na Joaquina. Na verdade, há um mês deu um mar parecido, mas não teve ninguém para surfar aquelas ondas como os caras surfaram”, afirmou Flávio Boabaid, 56, que era representante da ASP da América Latina e que foi um dos responsáveis por trazer a etapa do Mundial para Florianópolis.
O manezinho Lulu de Oliveira, 53, participou do Hang Loose e foi até a última fase da triagem. “Eu fui até a última fase da triagem, mas não entrei no evento principal, mas esse nem era o objetivo. Existia um cânion separando o surfista brasileiro do gringo. Mas foi uma grande realização pessoal. Era uma época em que mal tínhamos acesso à revista, e, de repente, eu chego na Joaquina e está ali Mark Richards, Shaun Tomson, se aquecendo na tua praia, te cumprimentando”, recordou.
Segundo o jornal O Estado, as finais reuniram um público de 10 mil pessoas na Joaquina, entre eles Teco Padaratz, então com 15 anos. “Ali eu conheci e apertei a mão de vários surfistas, que anos depois disputaram muitas baterias comigo. Esse campeonato serviu para instigar a gente, para gente ver que era possível. A partir dali, começamos a surgir várias equipes pelo Brasil. Tanto que em 88, eu e o Fabinho [Gouveia] fomos para o tour mundial, com patrocínio da Hang Loose”, contou o bicampeão do WQS.
Elite do circuito mundial pode voltar a Floripa
Após 14 anos, a elite do circuito mundial pode voltar a Florianópolis em 2017. Segundo Teco Padaratz, que tem os direitos da etapa brasileira do Mundial, os surfistas defendem o retorno do evento para a capital catarinense, que sediou dois WQS – a Segunda Divisão do Surfe – nas últimas duas temporadas.
Floripa disputa com Rio de Janeiro, que sedia a etapa do Brasil desde 2005, e com São Paulo, que também apresentou uma proposta para realizar a competição. De acordo com Padaratz, o alto custo para sediar o evento e a dependência da verba do governo do Estado, que antes era um entrave para Florianópolis, já não é mais um problema. “Já existem soluções para esse problema, os surfistas querem vir pra cá. Não sei se já conseguimos trazer de volta no ano que vem, mas Florianópolis sempre foi uma grande capital do surfe, assim como o Rio de Janeiro”, ressaltou.
Fora do circuito mundial, marca aposta na base e já revelou campeões mundiais
Com a logo inspirada no cumprimento típico entre surfistas do mundo todo, a Hang Loose é uma marca de surfwear brasileira, criada em 1982 pelo surfista Alfio Lagnado. Em 1986, seguindo a linha da concorrente OP, que dois anos antes começou a patrocinar o circuito brasileiro, a empresa estourou no mercado com o Hang Loose Pro Contest, a etapa do Mundial em Florianópolis.
Após os primeiros anos de Joaquina, o evento aterrisou no litoral paulista, na praia de Pitangueiras no Guarujá, passou por Pernambuco e se fixou no arquipélago de Fernando de Noronha em 2000. Até 2012, o Hang Loose fez parte do novo calendário da ASP como um evento 6 estrelas Prime, com premiação total de $250 mil.
Hoje, a marca patrocina o principal campeonato de base do país, o Hang Loose Surf Atack. O evento, que vale como o Campeonato Paulista Amador, é disputado em quatro etapas e já revelou nomes como os campeões mundiais Gabriel Medina e Adriano Souza, o Mineirinho, e o campeão do WQS, Filipe Toledo.
Flávio Boabaid
“Nós tínhamos uma estrutura gigante, área de imprensa, área para atletas, uma série de inovações que passaram a ser exigidas nas outras etapas do tour depois. Antes o Wimea 5000 era uma esculhambação, nós colocamos o Brasil no mapa do surfe e escrevemos um novo capítulo no surfe brasileiro e mundial”.
Teco Padaratz
“Ali, eu conheci e apertei a mão de vários surfistas, que anos depois competiram comigo. Nunca vou esquecer da primeira apertada de mão do Tom Carrol. Ele era meu maior ídolo, apertou minha mão firme e falou ‘vai fundo, garoto, um dia você vai estar aqui com a gente’. E depois eu cheguei a disputar final com ele”.
Lulu de Oliveira
“Eu fiquei pela triagem, mas foi uma grande realização pessoal. Era uma época em que mal tínhamos acesso à revista, e, de repente, eu chego na Joaquina e estão ali Mark Richards, Shaun Tomson se aquecendo, te cumprimentando, passam por ti na água e elogiam as ondas. Caras que eram meus ídolos”.
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