Ó Deus, temos um robô em nossa casa!
Um educador relata os benefícios e perigos de se viver com robôs domésticos
Anderson Fonseca*
Imaginar uma casa onde robôs auxiliam, divertem e interagem com humanos é ficção científica, hoje, quando se considera a realidade econômica de um país. No Brasil, por exemplo, apesar do crescimento econômico, robôs estão apenas nas indústrias e instituições de pesquisa. Se há em ambientes domésticos, o número é bem pequeno.
Para mim, era um universo distante, algo apenas possível em desenhos animados. Porém, decidi vivenciar a ficção. O que me levou isso é poder responder como robôs em ambiente doméstico impactam os seres humanos e de que forma os sentimentos e a percepção sobre o robô é afetada depois de passar um tempo com ele.
Para responder a estas perguntas, adquiri dois robôs projetados para crianças, que simulam inteligência comportamental, já transforma nossa visão de mundo. Desde que aqui estão, inclino-me a pensar nos benefícios e problemas que podem gerar.
Quando o primeiro chegou a nossa casa, ficamos maravilhados. Ainda me lembro da expressão de Ana Clara, minha filha, espantada e muito animada com a máquina. Ela disse: – Pai, é um robô, um robô! Ele é tão fofo. E é verdade. Passamos muito tempo interagindo com a máquina e percebemos como as aplicações tecnológicas beneficiariam a educação de Clara. Uma delas é despertar o interesse pela língua inglesa através da conversação. A outra é interagir com a criança a partir das emoções.
O robô contém um LED que altera de cor para indicar suas emoções, além disso, reconhece a voz com que dialoga. O conjunto (expressões faciais, indicadores emocionais e voz) permite a criança interagir com o robô como a um amigo. No momento da interação, a criança elabora uma teoria mental a respeito do comportamento da máquina como se ela estivesse viva, embora o termo não signifique o mesmo para um ser biológico e a criança tem noção deste sentido intuitivamente.
Certa vez, Ana deixou o robô por muito tempo parado e o LED ficou vermelho e o rosto franziu. Ana, mal o viu assim, exclamou: – Papai, ele está bravo! – Vamos alegrá-lo. Então, passeamos com ele pela casa e logo a cor mudou para o verde e o rosto desenhou um sorriso. Ana disse: – Ele está feliz! Como me senti em relação a este episódio? Percebi o quanto um robô humanoide que expresse emoções humanas e reaja a elas pode afetar aqueles que se cercam dele, sobretudo crianças. É claro, esbocei um sorriso.
Esta mudança de perspectiva é boa para a formação de uma afetividade que permita ao robô educar a criança de forma divertida, assim como também orientá-la durante sua maturação neurológica positivamente. Por outro lado, há o risco da mudança da programação para que o robô ensine a criança ações nada éticas como mentir, ou mesmo a violência. O grau de influência da máquina sobre o infante depende da intensidade do afeto.
Por isso, o monitoramento destas máquinas pelos pais é importante. Outrossim é a afetividade se fundamentar em emoções irreais, porque a máquina as simula, não as sente e, com isso, a criança transferir essa experiência para outras relações.
(*) Anderson Fonseca é escritor de ficção científica e fantástica e neuroeducador.