Prefeituras da região apostam em roteiro de cicloturismo para atrair visitantes
Parte do chamado “Caminho dos Príncipes”, o Vale do Itapocu está no centro do terceiro maior núcleo turístico do Estado, com mais de 200 meios de hospedagem. No entanto, os municípios da microrregião colecionam avaliações fracas nas análises do ministério do turismo: Jaraguá do Sul é o único a alcançar a classificação C, indicando fluxo turístico nacional e internacional expressivo. O restante segue classificado em D, indicando turismo regional.
Para mudar essa avaliação, a prioridade é integrar a região como um núcleo turístico, como nota a presidente do Vale dos Encantos Convention & Visitors Bureau, Edilma Lemanhê. “Estamos finalizando o levantamento técnico para a criação de um circuito de cicloturismo nos municípios da Amvali (Associação dos Municípios do Vale do Itapocu) tendo como sede a cidade de Jaraguá do Sul. Acreditamos que com a criação deste atrativo conseguimos diversificar nossa rede de atendimento”.
De acordo com o diretor de Turismo na Prefeitura de Jaraguá do Sul, Marcelo Nasato, a região tem forças para serem exploradas no setor. “O que notamos é que estão sendo criados novos atrativos para o turismo e temos que incentivar isso”, explica. Edilma ressalta que a iniciativa privada também vem investindo no desenvolvimento turístico da região, com a criação de novos negócios.
A maior iniciativa neste sentido é o próprio projeto de cicloturismo desenvolvido entre os municípios da região, a Amvali e o Bureau, criando uma rota unificada, mapeando e sinalizando trilhas entre Jaraguá do Sul, Pomerode, Corupá, São Bento do Sul, Schroeder, Joinville, Campo Alegre, Guaramirim e Massaranduba.
Segundo o secretário de indústria, comércio, cultura, lazer e turismo de Corupá, Juliano Millnitz, integrar os mercados turísticos da região é essencial para tornar o Vale do Itapocu um destino competitivo. “Nosso principal trabalho em 2017 foi a estruturação de um plano regionalizado de turismo”, explica, ressaltando que a integração pode compensar fraquezas individuais. “Nossos municípios não conseguem segurar o turista por uma semana inteira, mas se tiver como o turista se locomover com facilidade entre os vários destinos e tiver mais informações sobre as atrações, juntos podemos capturar o visitante”, diz, frisando a importância de integração não só entre os municípios, mas entre os estabelecimentos.
Movimentação tende aos negócios, mas região tem força no ecoturismo
Segundo Edilma, a movimentação turística para Jaraguá do Sul e região tende primariamente para viagens de negócios, não para o turismo em si – o que prejudicou o município em termos de crescimento do setor. “Jaraguá do Sul é uma cidade predominantemente industrial e nossa maior demanda turística é pelo turismo de negócios, e neste setor não tivemos o volume desejado”, explica.
Ao mesmo tempo, ela ressalta que há uma gama de opções para o turismo ecológico e de aventura, que traz uma movimentação pequena, mas notável. “Nossa região é rica em atrativos naturais onde é possível contemplar a natureza, pescar nos pesque pague da região com ampla estrutura de atendimento e se refrescar nas belas cachoeiras”, explica.
O projeto de cicloturismo deve cooperar com essas rotas, afirma o secretário de Planejamento de Massaranduba, Fabiano Spezia. “Temos ótimos percursos com paisagens lindas que poderão ser melhor explorados com essa rota do cicloturismo”, explica, destacando o Morro do Santo Anjo. Antecipando a movimentação, a Prefeitura está estudando recursos para melhorias na infraestrutura do morro.
Em Corupá, a rota das cachoeiras movimenta uma média de 700 a 800 pessoas por dia na alta temporada, chegando a picos de mil visitantes diários. Já em Jaraguá do Sul, o destaque fica por conta do Morro do Boa Vista e o morro das Antenas – a 5ª trilha de subida mais árdua do país – com investimentos de R$ 1 milhão em obras de segurança e infraestrutura previstos no ano.
As opções mais aventureiras ficam por conta de Schroeder e Corupá: as trilhas do Vale do Rio do Braço e do Vale do Bracinho, em Schroeder, e o parque Natural do Braço Esquerdo se destacam por conta de opções de escalada, trilha e rafting, com a realização do Festival de Escalada do Braço Esquerdo em outubro.
Turismo religioso é aposta para Jaraguá do Sul
Na busca por diversificar o portfólio de atrações turísticas, uma aposta de Jaraguá do Sul é o turismo religioso, movimentado pela beatificação do Padre Aloísio Boeing. “Temo visto uma movimentação considerável para as missas e para visitar o túmulo dele na Igreja Nossa Senhora do Rosário”, explica Nasato.
Outro indutor do turismo sacro é a Chiesetta Alpina, no morro Boa Vista, inaugurada em 2012. Construída como um monumento aos imigrantes alpinos e dedicada ao Papa João Paulo I, a igreja é o segundo monumentos religioso mais visitado do estado. A frente dela, apenas Nova Trento, afirma Nasato. Corupá também consta no roteiro de turismo religioso, com o Seminário Sagrado Coração de Jesus.
Em vista destas movimentações, a Prefeitura está sondando líderes católicos e protestantes para fomentar este tipo de turismo e para encontrar mais destinos sacros no município. O município já mapeou 30 igrejas com valor histórico e arquitetônico que podem integrar as rotas turísticas da cidade. Em fevereiro, será realizada outra reunião com as lideranças para estimular o turismo.
Movimentação de festivais gera picos sazonais
Além dos destinos permanentes, a região tem forte movimentação com festivais e festas tradicionais, como a Schützenfest, em Jaraguá do Sul e eventos alternativos, como o Bananalama, de Corupá, que atraem picos de visitantes para as cidades.
Em Massaranduba, um destaque é a Fecarroz (Festa Catarinense do Arroz), nota Spezia. “Temos boas expectativas para a festa em 2018, e esse é o nosso principal meio para mostrar nossas riquezas para o resto do estado”, diz, frisando que em 2017 a festa do arroz teve cerca de 50 mil visitantes.
A maior destas movimentações, no entanto, é o Festival de Música de Santa Catarina (Femusc), este ano realizado de 14 a 27 de janeiro, com 380 músicos de 27 países. A estimativa é que o evento traga 65 mil visitantes e seja acompanhado online por outras 75 mil. Em 2017, cerca de 55 mil pessoas vieram ao evento, movimentando R$ 7 milhões ao longo de 10 dias.
Carência de informações é um desafio
Enquanto a região tem oferta farta de atrativos turísticos a serem explorados, os municípios sofrem com um problema: a carência de informações sobre as movimentações do setor. Não há um banco de dados estatístico sobre o turismo em Jaraguá do Sul, Corupá ou Massaranduba – e parte das metas para o futuro próximo é corrigir essa insuficiência.
O secretário de Corupá, Juliano Millnitz nota que existe uma certa relutância do setor em divulgar esses dados, e persuadir os empresários exige trabalho. “Formar esse banco de dados é importante, não só para sabermos como vai o setor, mas para conseguirmos investimentos públicos e da iniciativa privada”, ressalta. Além do banco de dados em si, Millnitz planeja a implementação de um portal no município, com informações para o turista.
Nasato ressalta que o município está há cerca de seis anos sem informações sobre o setor. “Foi só ano passado que conseguimos convencer os empresários do setor a compartilhar as informações de movimentação dos hotéis”, explica. Segundo ele, em 2017 Jaraguá do Sul teve uma média de ocupação hoteleira de 40%.
O estado conta com 251 municípios com vocação turística. Segundo a Secretaria de Turismo do Estado de Santa Catarina, em 2016 o estado recebeu 21,8 milhões de turistas, sendo 2,1 milhões deles estrangeiros. A movimentação gerou receitas de R$ 14,414 bilhões. Como resultado da carência de dados, os municípios não sabem precisar quanto disso é representado pela região.