O Aeroporto Ministro Victor Konder, de Navegantes, foi o primeiro no Estado a passar por um simulado de acessibilidade, uma determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que faz parte da preparação para as Paralimpíadas. A ação ocorreu nesta quarta-feira e envolveu 50 pessoas, entre funcionários da Infraero, das três companhias aéreas que operam no aeroporto e pessoas com necessidades especiais – cadeirantes, pessoas com deficiência visual ou auditiva –, além de uma gestante e um treinador de cão-guia.
O grupo de voluntários enfrentou a fila de check-in, passou pelos procedimentos de segurança e pela sala de espera antes de entrar na aeronave. Os cadeirantes utilizaram o ambulift, uma espécie de caminhão-elevador que chegou no ano passado a Navegantes e comporta até quatro pessoas de uma vez — o aeroporto está entre os que mais utilizam o equipamento no país, segundo dados da Infraero.
Um a um os voluntários foram acomodados, de acordo com as regras de acessibilidade: usuários de cão-guia, por exemplo — deficiente visual ou treinador — ocupam, preferencialmente, os primeiros bancos. Os cadeirantes ficam nas fileiras do corredor, para facilitar a entrada e a saída. A manobra da cadeira exige perícia dos comissários porque o espaço no avião é pequeno. Depois que todos estavam sentados nas poltronas, começou a operação de desembarque.
Todo o procedimento, desde a chegada ao aeroporto, foi cronometrado pelos funcionários da Infraero, que anotaram as dificuldades das equipes. O resultado ainda será avaliado, mas já foi possível perceber o que precisa melhorar.
— Precisamos de mais agilidade no ambulift quando há mais pessoas para transportar — avalia Douglas Nardeli, coordenador de segurança do aeroporto, que acompanhou o simulado.
Toda a operação de embarque levou cerca de 40 minutos. Para alguns dos passageiros, foi a primeira experiência em uma aeronave — ainda que com os pés firmes no chão. É o caso do aposentado Bruno Carlos de Oliveira, 54 anos, que subiu no avião com o cão-guia Jhonny, que o acompanha há dois anos:
— Meu único problema seria com a ansiedade. Mas como não saí do chão, fiquei tranquilo e não tive problemas de acessibilidade.
Antes de ir embora, Bruno, que tem baixa visão e consegue enxergar vultos, pediu para parar em frente à aeronave com Jhonny para que o cão percebesse o seu tamanho. Um ato pensando em futuras viagens pelo céu.
Desafio no ar
Antes do simulado, funcionários da Infraero e das companhias aéreas em Navegantes já haviam feito um treinamento para melhorar o atendimento aos portadores de necessidades especiais. No ano passado, o aeroporto fez o transporte de mais de 20 paratletas que participaram de uma competição em Blumenau – foi a prova de fogo, com o primeiro uso “em série” do ambulift.
O equipamento foi comprado pela Infraero em 2015 e entregue a alguns aeroportos no país que não possuem fingers, aqueles túneis que levam até a porta da aeronave. Cada operação custa R$ 186 – valor pago pela companhia aérea, que não é repassado ao passageiro.
A chegada do ambulift aos aeroportos regionais facilitou o atendimento aos cadeirantes, mas ainda há o que melhorar. Susana Silva, 31 anos, é auxiliar administrativa em Itajaí e costuma viajar nas férias. Diz que já passou por situações constrangedoras dentro e fora do país.
— Nem todos os aeroportos têm equipamento para facilitar a entrada nas aeronaves. Já fui colocada em uma cadeira de elevação (que leva até a porta do avião) que não tinha apoio para os pés . E dentro do avião, já precisei me arrastar pelo chão para ir até o banheiro — conta.
O simulado deve ocorrer em aeroportos de todo o país. A expectativa é que os testes emJoinville e Florianópolis ocorram nos próximos dias.