A proposta inicial era uma confraternização, tendo as disputas como ‘pano de fundo’, mas diante de tantos atletas de ponta e performances de empolgar o público, o Festival Santos de Longboard ficou marcado pelo alto nível técnico nas ondas.
O que iniciou como um campeonato municipal, ganhou projeção nacional e competidores tops do Mundial, que fizeram a festa na Praia do José Menino, junto ao Quebra-Mar, no Parque Municipal Roberto Mario Santini, na quinta e sexta-feira (21 e 22).
Carlos Bahia, de São Sebastião, e Chloé Calmon, do Rio de Janeiro, foram os grandes vencedores da open e da feminina, respectivamente. Também ergueram a taça Wady Mansur, hoje morando no Rio de Janeiro, na categoria pioneiros (60 anos em diante); o cearense Marcelo Bibita, na gran kahuna (50 a 59 anos); Marcelinho do Tombo, de Guarujá, na kahuna (45 a 49 anos); e Gabriel Moura, outro talento sebastianense, na júnior (até 20 anos).
O lado festivo, de reencontro de amigos, e muitos pioneiros do esporte também esteve em evidência. Ícones do início do surf estavam presentes, como Homero Naldinho, Jose Luiz Sant’Anna Chico Paioli e Wady Mansur. “Tivemos um evento espetacular. Um momento especial, onde reverenciamos aqueles que iniciaram esse esporte e destacamos os nomes que se destacam hoje no cenário”, vibrou o presidente da Associação Santos de Surf, Marcos Andrade, o Cabeça.
Em meio às disputas, o que se via era sempre o clima de festa, com surfistas “da antiga” contando histórias, relembrando casos, campeonatos das antigas. A nova geração presente interagia e se divertia com os veteranos. Já nas ondas, as disputas tiveram alto nível técnico, valendo pranchões da New Advance aos vencedores (exceto na júnior, onde o prêmio foi um skate longboard Tábua Havaiana), sendo que na open, a categoria principal, o campeão e o vice levaram para a casa as pranchas feitas especialmente para o evento, com shape de Neco Carbone.
“Foi uma grande festa, muito bonito. Deu tudo certo. Isso mostra a seriedade e todo o carinho que o Marcos tem à frente da Associação e o credencia a continuar esse trabalho e garantirmos mais eventos”, destacou o presidente da TV Tribuna e da Associação Comercial de Santos, Roberto Clemente Santini.
Com ondas menores do que o primeiro dia, em torno de um metro, e novamente muito sol, o dia decisivo do Festival começou em alta performance com os novos valores da júnior. Gabriel Moura logo na primeira bateria do dia garantiu a maior nota do evento, um 9,83, mostrando que o Brasil segue produzindo talentos nas ondas.
Outro momento especial foi na semifinal open, reunindo os dois atletas quintos colocados no último mundial, na China, Jefferson Silva, de Saquarema, e Jefson Silva, de São Sebastião. No melhor momento do mar, o atleta do Rio garantiu um 9,17 e depois um 9,50, somando 18,67 pontos de 20 possíveis. Já o surfista do litoral norte paulista teve um 8,33 e um 7,23.
Nas finais, a primeira vitória foi de Gabriel Moura, na júnior, vencendo com certa folga, para deixar Leonardo Pacelli, de Santos, em segundo, o carioca Pedro Machado, em terceiro, e o também santista Jonas Wolthers, em quarto. “Foi irado. Tinha quebrado a minha prancha, tenho de agradecer ao Teco, da Silver Surf. Quero agradecer a Deus, aos meus pais, meus amigos, como Biludo, Bahia, Jefson”, falou o atleta de 17 anos, local da praia de Maresias.
Na kahuna, Marcelinho do Tombo voltou a ter a melhor apresentação na categoria, com notas 7,67 e 7,57, superando Marcelo Lima, de São Paulo, Ricardo Zuca, de Santos, e Alex Miranda, da capital. “Foi bem legal nos dois dias. O longboard está na veia e eu tinha de estar aqui. Não consegui vaga na open e ganhei na Kahuna. Não queria estar fora. Deu tudo certo, altas ondas”, festejou o campeão.
Depois, foi a vez dos surfistas da gran kahuna definirem o vencedor e Marcelo Bibita confirmou o favoritismo, após uma bela disputa com Neco Carbone, de Guarujá. O surfista cearense garantiu a melhor nota da bateria, um 5,67. Neco tentou virar, mas não conseguiu uma onda consistente. Paulo Cesar, local do pico, ficou em terceiro e Delton Menezes, de São Vicente, completou o pódio.
“Poder participar, reencontrar essa galera toda e ainda ganhar, foi só alegria. O coração está cheio de alegria e gratidão”, comemorou Bibita, ressaltando o espírito de confraternização do evento. “Isso foi o diferencial. Estamos acostumados a ver só o campeonato. Aqui a gente viu as histórias, as lendas. Dentro d’água existiram as disputas realmente, mas nos bastidores foi muito engraçado, com as histórias todas”, argumentou. “Tenho de agradecer a organização por esse trabalho excelente”.
E a reverência à história ficou mais evidente com a final da pioneiros. Juntos, os quatro finalistas somavam 250 anos e muita história em cima de pranchas de surf. Desde a época da madeirite, das pranchas ocas, quando pegar onda ainda era marginalizado. Na bateria, eles levaram a sério a disputa e Wady Mansur, 60 anos, garantiu uma vitória larga, com notas 7,33 e 7,93, disparado na frente.
A briga ficou mesmo pelo segundo lugar, com José Luiz Sant’Anna, 65 anos e um velho conhecido do Quebra-Mar, garantindo o segundo lugar, Chico Paioli, também de 65 anos, e morador de São Paulo, em terceiro, e John Wolthers, 60, outro ícone santista, em quarto.
“Rever amigos é legal, mas na hora da bateria não tem amizade alguma. Jogamos duro”, brincou Wady, que nasceu e aprendeu a surfar em Santos e hoje mora no Rio. “Fora da água é bacana”, acrescentou. “Iniciei em 1967, no Canal 3, com uma prancha oca, borda quadrada, que chamavam caixa de fósforo. Nunca parei de pegar ondas. Eu e meu irmão (Fuad) somos vadios. Não tem essa de só final de semana. Sempre surfamos”, acrescentou.
TOP MUNDIAL
Depois, o público ganhou novos presentes, com as finais envolvendo surfistas profissionais, vários tops do Mundial da World Surf League (WSL). O mar piorou com a entrada do vento, mas não estragou o show dos competidores em cima dos pranchões.
Primeiro com as meninas, com Chloé Calmon, terceira melhor do Mundo, ganhando com certa tranquilidade, mesmo tendo como rival a pernambucana Atalanta Batista, quinta do Mundial. Nas duas primeiras notas, a surfista do Rio tirou 6,5 e 7,83, abrindo larga vantagem e ainda aumentou a diferença com uma nota 7,17. Atalanta ficou em segundo, com Juliana Savio, mais um talento de São Sebastião, em terceiro, e Evelin Neves, também do Rio de Janeiro, em quarto.
“Santos é uma cidade que gosto muito. Tenho ótimas lembranças. Comecei a competir como profissional aqui, quando tinha 14 anos. Sempre que venho para cá, me divirto muito, sempre tem altas ondas e faltava uma vitória. Estou muito feliz”, vibrou Chloé, junto com os pais.
“O Festival foi uma ótima iniciativa para reviver a modalidade. Essa união foi muito boa. Foi um evento de alto nível. Fazia tempo que eu não competia no Brasil. Teve um gostinho especial de estar em casa. Todo mundo surfou muito bem”, complementou a vencedora.
Na sequência, mais destaques do Mundial, agora na open e também o maior surfista brasileiro da modalidade, Picuruta Salazar, competindo “em casa”. E foi ele que saiu na frente, mas depois Carlos Bahia, com um 7,67 e um 6,80 assumiu a ponta. Jefson Silva ainda tirou um 7,33, mas não foi suficiente para virar o resultado. Jefferson Silva foi o terceiro e Picuruta completou o elitizado pódio que encerrou o evento.
Para Bahia, a vitória em Santos teve um sabor mais do que especial. Foi no Quebra-Mar que ele garantiu sua única nota dez na carreira e, dessa vez, a final teve grandes rivais. “Foi emocionante. Quero dedicar essa vitória para a minha filha Aylla, que está com quatro meses. Foi sensacional fazer essa final com grandes nomes como Jefferson Silva, Picuruta, que sou fã e me ensinou muito, e o Jejé (Jefson), meu filhote, moleque que está representando muito bem o país”, disse.
“Estou batalhando esses dois últimos anos com foco no meu projeto de buscar a essência na África e agora voltei às competições. Foi emocionante vencer numa onda como essa e nesse alto nível. Está todo mundo de parabéns e quero agradecer ao Mauro Rabellé (diretor técnico) pelo convite. Agora é comemorar”, completou o surfista da praia de Maresias, lembrando a viagem que fez ao litoral oeste africano, surfando na Namíbia, Cabo Verde, Gâmbia e Senegal.
Ainda durante a premiação, o presidente da Associação Santos de Surf homenageou Roberto Santini, Mauro Rabellé e o assessor de imprensa Fábio Maradei. “Foram pessoas que somaram muito para o sucesso do evento. O Mauro foi incansável e tem a credibilidade de trazer todos os tops; o Roberto, um irmão, foi com quem me aconselhei ao assumir a Associação; e o Maradei, velho amigo de muito tempo que sempre está auxiliando em tudo”, enalteceu Cabeça.
Além dos seis pranchões New Advance e do skate longboard Tábua Havaiana, a premiação contou com peças voltadas ao surf da Água Marinha (para as finalistas da feminina), produtos da Rubber Sticky, também quilhas Alma Quilhas e kits da Vitshop, Cinza General Store, Fu Wax Parafinas e Okumura Temakeria para todas as categorias.
Resultados
Open
1 Carlos Bahia (São Sebastião)
2 Jefson Silva (São Sebastião)
3 Jefferson Silva (Saquarema/RJ)
4 Picuruta Salazar (Santos)
Feminina
1 Chloé Calmon (Rio de Janeiro/RJ)
2 Atalanta Batista (Ipojuca/PE)
3 Evelin Neves (Rio de Janeiro/RJ)
4 Juliana Savio (São Sebastião)
Kahuna (45 a 49 anos)
1 Marcelinho do Tombo (Guarujá)
2 Marcelo Lima (São Paulo)
3 Ricardo Zuca (Santos)
4 Alex Miranda (São Paulo)
Grand Kahuna (50 a 59 anos)
1 Marcelo Bibita (Fortaleza/CE)
2 Neco Carbone (Guarujá)
3 Paulo Cesar (Santos)
4 Delton Menezes (São Vicente)
Pioneiros (a partir de 60 anos)
1 Wady Mansur (Rio de Janeiro/RJ)
2 José Luiz Sant’Anna (Santos)
3 Chico Paioli (São Paulo)
4 John Wolthers (Santos)
Junior (até 20 anos)
1 Gabriel Moura (São Sebastião)
2 Leonardo Pacelli (Santos)
3 Pedro Machado (Rio de Janeiro/RJ)
4 Jonas Wolthers (Santos)