Ressecamento dos olhos é motivado por fatores climáticos, uso intenso de telas e menor frequência de piscadas
Ao menos 26 milhões de brasileiros sofrem com a síndrome do olho seco, de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Esses números levam os especialistas a concluir que as pessoas estão piscando menos.
Essa condição é caracterizada pelo ressecamento da superfície do olho, incluindo córnea e tecido conjuntivo, devido a falta de produção de lágrimas. Embora não seja considerada grave, é desconfortável e pode prejudicar a produtividade no cotidiano pessoal e profissional.
Sintomas da síndrome do olho seco
Os sintomas mais comuns do olho seco são:
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Olhos avermelhados
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Ardência e coceira
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Secura e incômodo nos olhos, como se houvesse areia ou outros corpos estranhos nos globos oculares
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Visão embaçada
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Sensibilidade à luz
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Olhos lacrimejantes
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Maior produção de muco (em casos mais graves)
É normal que esses sinais fiquem mais acentuados no final do dia, especialmente após exposição climática e utilização de telas.
O que causa a síndrome do olho seco?
A explosão de casos dos últimos tempos é atribuída principalmente a questões comportamentais, em especial o uso prolongado de telas (celular, computador, televisão). Como as pessoas ficam muito focadas nesses dispositivos, acabam piscando menos do que é considerado saudável – de 15 a 20 vezes por minuto, segundo médicos da área.
Ainda assim, existem outros motivos que afetam a lubrificação dos olhos:
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Doenças que comprometem as glândulas lacrimais, como lúpus, artrite reumatoide e outros distúrbios autoimunes ou sistêmicos
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Doenças neurológicas e paralisias
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Inflamações nos olhos, como a conjuntivites
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Anomalias nas pálpebras ou nas glândulas lacrimais
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Uso de medicamentos que prejudicam a produção de lágrimas, como certos antialérgicos e antidepressivos
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Uso constante de lentes de contato
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Fatores ambientais, como poluição, fumaça, tempo seco, vento forte e até mesmo o uso contínuo de ar-condicionado ou ventilador
Fatores de risco
Mesmo que qualquer um possa sofrer com a síndrome do olho seco, algumas pessoas são mais suscetíveis do que outras por causa de alguns fatores de risco:
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Idade (a partir dos 50 anos)
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Uso de lentes de contato
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Alterações hormonais motivadas pela menopausa ou gravidez
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Falta de vitamina A ou de ômega-3
Diagnóstico
Dr. Ricardo Filippo, especialista em oftalmologia e sócio da Clínica Oftalmológica em Campo Grande, Rio de Janeiro, afirma que existem alguns métodos de diagnóstico para o olho seco.
Todos são fundamentados no exame do filme lacrimal para avaliar o tempo de ruptura da lágrima, também conhecido como Break-up Time ou BUT. “Valores inferiores a 10 segundos são sugestivos de disfunção ou falha na qualidade da lágrima”, explica ele.
O diagnóstico também pode ser complementado com outros dois testes:
Teste Rosa Bengala ou Lisamina Verde
Ao aplicar um colírio com propriedades corantes, é possível analisar as respostas das estruturas externas do olho.
Os pontos secos e normais se comportam de maneira diferente, fazendo com que os corantes tinjam as células desvitalizadas do epitélio da córnea, ou seja, as áreas afetadas pela falta de lubrificação.
Teste de Schimer
Também conhecido como Teste do Olho Seco, o Teste de Schimer usa uma tira de papel de filtro no fundo do saco conjuntival inferior. Depois de cinco minutos, a umidade da tira é verificada.
Resultados inferiores a 15 milímetros são vistos como indicativos de patologias relacionadas ao olho seco.
Como funciona o tratamento da síndrome do olho seco?
O tratamento busca aumentar a produção natural de lágrimas, conservá-las por períodos mais longos e repor a lubrificação que não é produzida pelas glândulas.
Para isso, medicamentos que atuam como lágrimas artificiais são usados no globo ocular para lubrificá-los e reduzir qualquer tipo de desconforto.
No entanto, isso é apenas um tratamento paliativo. Para que o problema seja solucionado completamente, é preciso descobrir o motivo do ressecamento e tratá-lo de maneira apropriada. A consulta com um oftalmologista é imprescindível.
Como aliviar os sintomas do olho seco no dia a dia?
O Dr. Ricardo Filippo recomenda algumas medidas para aliviar o desconforto causado pela síndrome:
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Em casos de aplicação de medicamentos, opte por lágrimas artificiais, que servem apenas para a lubrificação dos olhos; nunca use colírios sem orientação médica
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Use máscaras sobre os olhos quando for dormir em ambientes com ar-condicionado ou ventilador
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Beba muita água para manter as mucosas hidratadas
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Evite o consumo de produtos que aumentam a secura nos olhos, como bebidas alcoólicas e cafeína
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Use umidificador ou vaporizador para regular a umidade do ar nos ambientes internos
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Proteja os olhos com óculos escuros que tenham lentes certificadas, com proteção de raios UVA e UVB
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Equilibre a hidratação das mucosas ao hidratar a pele e o nariz com loções e soluções salinas
Prevenção contra a síndrome do olho seco
A melhor forma de evitar o olho seco é cuidando da lubrificação. A lista de métodos para aliviar sintomas apresentados anteriormente também serve como prevenção.
Além disso, é importante prestar atenção no uso das telas. Hoje em dia, é quase impossível evitá-las, mas há boas práticas que são úteis para preservar a saúde dos olhos. Dr. Ricardo Filippo dá algumas dicas. “Uma das práticas mais eficazes para evitar o agravamento dos sintomas é a regra do 20-20-20: a cada 20 minutos em frente às telas, desvie o olhar por 20 segundos para um objeto a pelo menos 20 pés (cerca de 6 metros) de distância. Essa simples mudança de hábito ajuda a relaxar a musculatura ocular e estimula a frequência das piscadas, preservando a saúde dos olhos”.
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