Os post its estão em todas as paredes da sala de reuniões da Secretaria de Integração e Desenvolvimento Econômico de Joinville (Side), instalada no Palacete Niemeyer. Eles são colados sempre que alguma ideia chega até a equipe liderada pelo secretário municipal Danilo Conti e ajudam a construir a “Joinville dos sonhos“.
Boa parte do conteúdo que preenche os papéis coloridos é recebida a partir de reuniões itinerantes com a comunidade, realizadas pela secretaria desde março, quando o município lançou o Join.Valle, programa de estimulação à diversificação da matriz produtiva e de serviços voltados à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.
A ação abre os ouvidos da gestão pública para a população e vai ao encontro do conceito de cidades inteligentes, termo de origem europeia usado por municípios do mundo todo que almejam se desenvolver economicamente sem deixar de lado a preocupação com a qualidade de vida da população. No caso de Joinville, considerada por uma pesquisa da revista IstoÉ a segunda melhor cidade brasileira para se viver, o desafio não é menor.
– Nós partimos do porquê de algumas pessoas se apaixonarem por Joinville, mas que acabam optando por não ficar aqui – diz Conti, ao se referir aos talentos que deixam a cidade em busca de cenários mais atrativos.
As metas do Join.Valle para tornar Joinville uma cidade ideal para negócios em todos os setores, sem deixar de dar atenção às necessidades básicas da população, ainda passam pela adaptação a uma nova forma de gestão, pautada no princípio de que as soluções precisam ser pensadas em conjunto e com a participação do maior número possível de pessoas.
– Os cidadãos precisam ser os protagonistas desta cidade do futuro – alerta Fabiano Dell’Agnolo, diretor executivo da Side.
É neste diálogo aberto com a comunidade que a Prefeitura quer chegar aos reais problemas e poder propor soluções inteligentes – e, talvez, de baixo custo ou mesmo imediatas.
– Às vezes, os problemas têm soluções simples. Na área de mobilidade, por exemplo, talvez o que as pessoas realmente precisem é de que criemos condições para que elas possam trabalhar em home office e não para que elas cheguem mais rápido ao trabalho – exemplifica o gerente da Side, Ari Vieira Jr.
A iniciativa é ousada, pois visa a atender à demanda como um todo, no caminho de outras cidades pelo mundo já consideradas inteligentes. Barcelona, na Espanha, é uma das pioneiras a receber o título, graças a soluções urbanas criadas nos últimos anos.
No Brasil, um bom exemplo é o de Recife. A capital de Pernambuco criou o Porto Digital, instalado no Centro Histórico da cidade. A iniciativa brasileira deu nova vida a uma área marginalizada e a transformou em um polo tecnológico atrativo para empresas e startups. Atualmente, o parque abriga 260 empresas e instituições de tecnologia da informação e comunicação e de economia criativa. Um dos apoiadores do projeto, o consultor Claudio Marinho, esteve em Joinville durante a Expoinovação, realizada pelo Conselho Municipal de Ciência Tecnológica e Inovação (Comciti) neste mês, e salientou a importância de o poder público olhar para as necessidades da população antes da tomada de decisões.
– Os serviços públicos é que precisam se adaptar à vida dos cidadãos, e não o contrário – frisou Marinho na palestra.
A união cria inovação
Dos encontros promovidos pelo Join.Valle, pelo menos uma iniciativa já se destaca. O Fab Lab Joinville foi criado em julho, a partir do desejo dos participantes de terem um local para o compartilhamento de conhecimentos tecnológicos.
– O Fab Lab é formado por dez conselheiros, além de sócios-voluntários e de makers, que antes sentiam a necessidade de um meio comum para se juntarem – explica o vice-presidente do grupo, Richard Klymyszyn.
Os participantes apontaram carências e chegaram ao desenvolvimento de três protótipos inovadores, as MachineBox: uma impressora em 3D (3D Box), uma máquina de corte a laser (Laser Box) e uma de CNC Router (Drill Box). Todos têm com tamanhos e custo menores do que os produtos que atualmente estão disponíveis no mercado. Agora, os criadores, Richard e Jeferson Batista, estudam formas de comercializá-los.
Outra invenção em fase de testes no grupo é o Tower Point, poste que reúne vários serviços além de iluminação pública e distribuição de energia. O equipamento, apresentado na Expoinovação, concentra aplicativos de wi-fi, estação para abastecimento de carros elétricos e dispositivo de emergência. A expectativa é incluir ainda mais utilidade no protótipo e, quem sabe, levá-lo às ruas de Joinville.
Até o fim do mês, a Fab Lab deverá ter um espaço físico próprio, dentro do Centro XV, prédio cedido pela Prefeitura, mas a ideia é de que a iniciativa caminhe com as próprias pernas, no modelo de associação sem fins lucrativos.