Como a inovação e sustentabilidade contribuem para tornar as cidades mais inteligentes e circulares

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Em um momento em que o mundo busca reconfigurar suas bases produtivas para lidar com as crises climáticas e sociais, a inovação desponta como eixo central da transformação urbana. Longe de ser apenas um conceito ligado à tecnologia, ela passou a ser entendida como uma nova forma de pensar cidades mais humanas, integradas e sustentáveis.

De acordo com a ONU-Habitat, cerca de 56% da população mundial vive hoje em áreas urbanas, e a projeção é que esse número alcance 70% até 2050. As cidades, que já são responsáveis por mais de 70% das emissões globais de CO₂, estão no centro das discussões sobre o futuro sustentável do planeta. O avanço das mudanças climáticas pressiona governos e empresas a repensarem os modelos de consumo, descarte e mobilidade. A urbanização acelerada e o aumento da geração de resíduos tornaram evidente que as cidades precisam se reinventar. Nesse contexto, surgem soluções que unem tecnologia, gestão de dados e economia circular para criar ecossistemas urbanos inteligentes.

“Existem muitas inovações que estão pensando em reinventar a forma como consumimos e maneiras para frear o uso desenfreado dos recursos naturais. Com a sociedade com comportamentos cada vez mais urbanos, as soluções precisam ser construídas pensando em como aquela comunidade, que pode ser um bairro, um condomínio e até uma indústria produtiva pode se auto regenerar através das próprias interseções com o meio ambiente. Resíduos, como energia e matéria prima, hortas urbanas, captação de água da chuva, geração de energias alternativas e até arquitetura que estimule a redução natural do consumo de recursos”, explica Eduardo Nascimento, CEO da Minha Coleta, startup especializada em gestão de resíduos e coleta seletiva, que busca reduzir a quantidade de lixo que chega aos oceanos por meio de soluções práticas para empresas, condomínios e cidades.

O papel da tecnologia na nova economia urbana

A digitalização de processos e o uso de dados em tempo real têm redefinido a forma como os municípios lidam com seus recursos. Iniciativas baseadas em IoT, blockchain e inteligência artificial estão sendo aplicadas para rastrear resíduos, otimizar rotas de coleta e transformar o lixo em ativo econômico.

No Brasil, o desafio ainda é grande. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2025, elaborado pela ABRELPE, o país gerou 80,96 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2024 e apenas cerca de 8% desse total foi efetivamente reciclado. Além disso, dados da ABREMA indicam que 41% dos resíduos urbanos ainda são descartados de forma inadequada, em lixões e aterros sem controle ambiental.

“A digitalização da gestão de resíduos é o que finalmente permite transformar dados dispersos em políticas públicas e modelos de negócio eficientes. O desafio agora é romper as barreiras culturais e operacionais que ainda afastam o setor da transformação digital plena”, aponta o executivo da greentech.

Nesse movimento, a Minha Coleta vem se consolidando como uma das startups brasileiras que estão à frente dessa virada de chave. A empresa aposta em um modelo que combina tecnologia e inclusão social, conectando catadores, cooperativas e empresas dentro de uma mesma infraestrutura digital.

Recentemente, a companhia lançou uma plataforma baseada em blockchain desenvolvida em parceria com a Bitshopp, que utiliza NFTs e certificados digitais para rastrear e certificar créditos de logística reversa. A tecnologia cria um registro imutável de cada transação, garantindo transparência desde a origem do resíduo até a compensação ambiental.

Esse modelo não apenas aumenta a confiança nos dados, mas também inaugura um novo mercado de ativos sustentáveis, em que práticas de reciclagem, energia limpa e governança corporativa podem ser transformadas em créditos ESG tokenizados. É uma das primeiras iniciativas no Brasil a aplicar blockchain em larga escala dentro da cadeia de economia circular.

“Quando aplicamos blockchain à gestão de resíduos, criamos um novo tipo de infraestrutura urbana — uma camada de confiança e rastreabilidade que conecta governos, empresas e cidadãos em tempo real. É o primeiro passo para cidades verdadeiramente inteligentes, transparentes e responsáveis”, afirma Nascimento.

Cidades como laboratórios vivos de inovação

As cidades do futuro não serão construídas apenas com cimento e concreto, mas com dados, conexões e colaboração. A ideia de smart cities evolui para um modelo em que inovação significa também inclusão social, econômica e ambiental.

A logística reversa, por exemplo, deixa de ser uma obrigação regulatória para se tornar um vetor estratégico de geração de valor. Quando bem estruturada, ela impulsiona cadeias locais de reciclagem, reduz custos de operação pública e estimula novos modelos de negócio sustentáveis.

Segundo a ABRELPE, o Brasil gerou 13,7 milhões de toneladas de resíduos plásticos em 2022. Esses números reforçam a urgência de desenvolver soluções tecnológicas que conectem dados, pessoas e políticas públicas em torno de uma gestão mais eficiente.

A sustentabilidade urbana depende da cooperação entre poder público, startups e comunidades locais. Cada parceria bem estruturada acelera a regeneração das cidades e transforma desafios ambientais em oportunidades de desenvolvimento econômico e social. PPPs, investimento em pesquisa e desenvolvimento de larga escala, focados em como podemos frear e criar fontes alternativas são importantes para acelerar o processo sustentável no planeta”, conta o CEO da Minha Coleta.

Da inovação à regeneração

O futuro das cidades depende de um novo pacto entre inovação e regeneração. Isso significa ir além da redução de danos e buscar formas de restaurar o equilíbrio ambiental, social e econômico. As cidades regenerativas serão aquelas capazes de gerar riqueza e bem-estar sem comprometer os recursos das próximas gerações.

As cidades do futuro não serão apenas sustentáveis, mas regenerativas — espaços capazes de se restaurar continuamente, aprendendo com os próprios fluxos de energia, resíduos e relações humanas. É quando o urbano volta a agir como parte do ecossistema, e não como algo separado dele”, destaca Eduardo Nascimento.

O Brasil, por sua biodiversidade e capacidade criativa, tem um enorme potencial para liderar a transição global para modelos de cidade mais sustentáveis. Com 20% da biodiversidade do planeta, segundo o IBGE, é um mercado de crédito ambiental em expansão, o país pode se tornar uma referência mundial em inovação verde.

A aposta da Minha Coleta nesse cruzamento entre tecnologia, impacto social e sustentabilidade representa um passo nessa direção. Ao criar infraestrutura digital para rastrear resíduos, medir resultados e integrar agentes diversos, a empresa sinaliza o nascimento de uma nova economia urbana mais transparente, inclusiva e regenerativa.

“Na Minha Coleta estamos criando um ecossistema que acelera essas oportunidades, principalmente com olhar focado em resíduos e como nosso consumo pode gerar novos recursos evitando a sobrecarrega planetária. Além da ampliação do rastreio estamos lançando um modelo de aceleração dos investimentos em inovações verdes e novas formas de conectar qualquer tipo de gerador de resíduos a uma solução sustentável e simples, acreditamos que isso acelera a transformação”, considera Nascimento.

O que faz a Minha Coleta?

A greentech realiza a gestão de resíduos de ponta a ponta, desde a origem na indústria até o destino final em centros de reciclagem. O processo inclui certificação em blockchain, cálculo de impacto ambiental e compensação de carbono, já reconhecidos com prêmios nacionais e internacionais, como o Selo Impact Latam e a inclusão no ranking Top 100 Startups.

Foto: Freepik