O machismo tem vários graus de violência. Começa com piadas aparentemente inofensivas e desqualificação da mulher, passando por xingamentos, ameaças, sexo sem consentimento até chegar ao feminicídio. Para alertar mulheres sobre os níveis de violência de gênero, a deputada estadual do Rio Grande do Sul, Manuela d’Ávila (PCdoB) criou o machistômetro, um material informativo que lista atitudes machistas indicando os sinais de alerta “cuidado”, “reaja” e “busque ajuda”. Em entrevista ao Catarinas, a parlamentar fala sobre a publicação que suscitou vários comentários machistas em sua página – deixando ainda mais evidente a importância da discussão.
Catarinas: Como surgiu a ideia? O que motivou a criação do machistômetro?
Manuela: Nosso machistômetro foi inspirado em vários materiais que circulam e denunciam o machismo. Fizemos o material para que fosse entregue a secundaristas e estudantes universitários durante as palestras e audiências públicas sobre machismo nas instituições de ensino, que costumamos fazer com frequência , em diversas cidades. O objetivo é puramente de alerta e conscientização, tanto de homens quanto de mulheres. A repercussão que um simples folder teve já mostra o quanto esse tipo de iniciativa é necessária. Há uma banalização em torno do preconceito contra mulher. Aquele velho discurso que se aplica também a outros alvos de preconceito , como quando escutamos “Sou pobre e estudei sem incentivo do governo” “Não precisei de cotas”…tudo isso sem analise de todo um contexto geral que existe em nosso país.
Em resposta aos comentários sobre a publicação, Manuela grava vídeo explicando o que é cultura machista:
Catarinas: Como a deputada propõe o diálogo sobre o feminismo no parlamento e sociedade?
Manuela: A busca pela igualdade de direitos das mulheres deve ser constante. Enquanto deputada, tenho o compromisso de viabilizar leis que se aproximem dessa busca. Por exemplo, sou autora do PL 04/2016 que garante a presença de doulas nos hospitais, para que a mãe possa ter esse auxilio no período de parto e pós-parto, essa proposta é pensar no cuidado com a mulher. Dentro desse tema, conseguimos aprovar, na CCJ dessa semana, o PL06/2016, que institui a Semana Estadual de Conscientização sobre os Direitos das Gestantes. Também há o PL05/2016 que qualifica o atendimento a mulheres vítimas de violência, proposta muito importante no momento em que vivemos e acompanhamos os recursos para políticas de gênero cada vez mais escassos.
Dentro da própria Assembleia, propomos o Projeto de Resolução (PR) 1 “Mulheres na Mesa Diretora”, que assegura a participação da mulher na Mesa Diretora da Assembleia, pois se há mais mulheres em ambientes de decisão, maior é a representação real de suas demandas e a possibilidade de mudanças.
As audiências públicas são importantes ferramentas para dialogarmos com a sociedade assuntos de relevância social. Nesse sentido, já realizamos audiência pública sobre a temática, na capital e no interior do Estado. Uma delas foi em Santa Maria, no último dia 21, para discutir os direitos das mulheres e o combate ao machismo nas instituições de ensino. Além disso, materiais de fácil acesso, como o machistômetro, auxiliam no entendimento do público sobre o que é o machismo, e como buscar a igualdade de gênero.
Catarinas: A desigualdade de gênero e a violência contra a mulher é aceita na nossa sociedade? O Estado contribui para manter essa realidade?
Manuela: As mulheres chegam a ganhar 30% a menos do que os homens ocupando a mesma função de trabalho, segundo dados do Dieese. Quando uma mulher é estuprada, são vários os questionamentos que muitos fazem sobre a roupa que ela estava vestindo e com quem ela estava andando, existe nesse processo a culpabilização da vítima imposta por uma sociedade machista. Esses são exemplos de como existe a naturalização da desigualdade de gênero. O Estado, dentro de sua estrutura, cria mecanismos para minimizar e combater tais desigualdades, mas a cultura machista também está enraizada nesses processos.
Catarinas: Você vê semelhanças entre feminicídio, estupro e criminalização do aborto?
Manuela: Nessas três questões temos o corpo da mulher objetificado e visto como propriedade de alguém, no casos de feminicídio e estupro, ou do próprio Estado, no caso da criminalização do aborto. Quando um homem mata uma mulher, por acreditar que ela deve ser dele, por exemplo, essa é a última instância de afirmação de posse. E esse sentimento de posse deve ser combatido, a mulher precisa decidir sobre seu próprio corpo.
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