Em diversas culturas ao redor do mundo, a morte é vista como uma transição que merece ser comemorada com alegria, música e cores.
Enquanto em muitas culturas a morte é cercada de luto e tristeza, em várias partes do mundo ela é vista como um momento de transição, que deve ser celebrado de forma festiva. Essas tradições refletem a crença de que a morte não é o fim, mas uma passagem para outra existência, onde o ente querido continua a viver em outra dimensão. Assim, em vez de lágrimas, os rituais são marcados por festas, danças, músicas e cores vibrantes, celebrando a vida e a memória dos que partiram.
México: O vibrante Día de los Muertos
No México, o Día de los Muertos é uma das celebrações mais icônicas e festivas em homenagem aos mortos. Celebrado nos dias 1 e 2 de novembro, essa tradição mistura elementos indígenas e católicos, criando um evento único e colorido. As famílias preparam altares decorados com flores de cempasúchil (a tradicional flor de mortos), velas, fotos dos falecidos e oferendas que incluem os alimentos e bebidas preferidos de seus entes queridos.
Durante essa celebração, acredita-se que as almas dos mortos retornam ao mundo dos vivos para visitar seus familiares. Para recebê-los, as ruas e os cemitérios são decorados com cores vibrantes, e as pessoas se reúnem para compartilhar histórias, dançar, cantar e comer. A morte, nessa tradição, é vista como uma parte natural e contínua da vida, algo a ser lembrado com carinho e alegria.
Gana: Funerais como grandes celebrações de vida
Em Gana, na África Ocidental, os funerais são eventos grandiosos que podem durar vários dias. Lá, a morte é vista como uma transição para o próximo mundo, e os rituais fúnebres são momentos de celebração e homenagem à vida do falecido. Os ganeses acreditam que a maneira como uma pessoa é despedida pode influenciar sua passagem, por isso, os funerais são preparados com muita festa.
Os caixões, por exemplo, são uma atração à parte. Conhecidos como “caixões de fantasia”, eles são feitos sob medida para refletir a personalidade, ocupação ou interesses do falecido. Assim, é possível ver caixões em forma de peixe, avião, carro, entre outros. As cerimônias são marcadas por música, dança e uma grande participação comunitária, onde todos se reúnem para celebrar a vida da pessoa que partiu.
Indonésia: A festa do Ma’nene na cultura Toraja
Na Indonésia, especificamente entre o povo Toraja da ilha de Sulawesi, o Ma’nene é um ritual que celebra os ancestrais já falecidos. A cada três anos, as famílias exumam os corpos de seus entes queridos, limpam e vestem novamente os mortos com roupas novas e depois os colocam em pé ou em posição de honra nas casas. Esse ritual é uma maneira de reafirmar os laços familiares e de mostrar respeito pelos ancestrais, tratando a morte como um evento contínuo, onde os mortos ainda fazem parte da vida da comunidade.
Durante o Ma’nene, há também celebrações festivas, com danças, cantos e banquetes, onde toda a comunidade se reúne para honrar e celebrar os mortos. Esse ritual é uma demonstração de que, para os Toraja, os mortos nunca estão realmente separados dos vivos; eles permanecem presentes e ativos nas vidas dos que ficaram.
Nova Orleans, Estados Unidos: Funerais jazzísticos
Em Nova Orleans, nos Estados Unidos, os funerais podem se transformar em verdadeiros eventos musicais. Conhecidos como “funerais jazzísticos”, essas cerimônias são uma mistura de luto e celebração, refletindo a rica herança cultural e musical da cidade. O cortejo fúnebre é acompanhado por uma banda de jazz que começa tocando músicas sombrias e melancólicas, mas que gradualmente passa a tocar canções alegres e festivas, convidando os presentes a dançar e celebrar a vida do falecido.
Além das músicas, é comum que durante esses funerais sejam utilizadas coroas de flores, que adornam o percurso ou são colocadas no local de descanso final, simbolizando respeito e homenagem. Esse tipo de funeral é um reflexo da crença de que a morte não deve ser encarada com tristeza, mas como uma passagem para uma nova etapa, onde o espírito do falecido é liberado em um ambiente de alegria e música. As ruas de Nova Orleans se enchem de sons vibrantes, enquanto amigos, familiares e a comunidade se despedem de forma única e festiva.
Madagascar: O Festival do Famadihana
Em Madagascar, o Famadihana é uma celebração que ocorre a cada cinco ou sete anos entre a etnia Merina. Conhecido como “a virada dos ossos”, o ritual consiste em desenterrar os corpos dos ancestrais, envolver os restos mortais em novos tecidos e dançar com eles ao som de música tradicional. As famílias acreditam que, ao realizar esse ritual, elas estão ajudando os espíritos dos mortos a se moverem para o além e a abençoar os vivos.
Durante o Famadihana, há uma grande festa onde toda a comunidade participa. É um momento de reencontro e de fortalecimento dos laços familiares, onde a morte é encarada com respeito e alegria, e não com tristeza. Para os Merina, honrar os ancestrais dessa forma é uma obrigação e um sinal de respeito profundo pelas gerações passadas.
A diversidade das celebrações da morte
As tradições festivas ao redor do mundo mostram que a morte pode ser encarada de diferentes maneiras, dependendo da visão e das crenças culturais de cada povo. Seja com música, danças, rituais ou até mesmo com “caixões de fantasia”, essas celebrações refletem uma profunda conexão entre os vivos e os mortos, e uma maneira única de honrar aqueles que partiram.
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