Brentano está preso no batalhão desde janeiro de 2015. É o mesmo quartel onde ele trabalhava. Ele foi levado pra lá um dia depois de ter disparado os dois tiros que mataram o Ricardo dos Santos, o Ricardinho.
Prisão com geladeira
A RBS TV teve acesso a um documento oficial do batalhão da PM que revela as condições da prisão. No documento, fica claro que o ex-soldado não está em uma cela. Ele está preso em um quarto dentro de uma residência que fica no batalhão. Antigamente, a casa era usada pelo setor de inteligência da PM.
Ainda de acordo com o ofício, Mota está acomodado em quarto amplo. Ali, ele tem cama, ar-condicionado, chuveiro, privada e até uma geladeira. A polícia autorizou que a família levasse uma televisão para o alojamento.
Além do quarto e do banheiro, o ex-soldado também tem direito a outro cômodo da residência, uma sala para receber visitas.
O relatório está anexado ao processo da morte de Ricardinho e foi assinado pelo atual comandante do batalhão da PM em Joinville, Nelson Henrique Coelho.
‘Ausência de tratamento igual’
O promotor de Justiça que acompanha o caso, Alexandre Carrinho Muniz, disse que esse tipo de privilégios não são comuns, mesmo em uma prisão especial. “Realmente causa estranheza. É uma ausência de isonomia, ausência de tratamento igual. Nós precisaríamos então que todos os presos provisórios se dispusessem dos mesmos recursos”.
O padrinho do surfista Ricardinho, Andrei Machado, recebeu a notícia com revolta. “Eu imaginei que ele estava num quarto, porque lá não é um presídio. Mas que ele tem uma sala, que ele tem televisão e que ele tem visitas que ele está numa casa e que ele toma sol no pátio, isso eu realmente eu não sabia. Isso deixa essa angústia ainda maior”.
Brentano foi expulso da PM no ano passado e, portanto, não teria mais direito de cumprir a prisão dentro do quartel. Mas a defesa dele conseguiu um habeas corpus no Tribunal de Justiça alegando que ele corria risco de vida se fosse transferido para um presídio, pelo fato de ser um ex-policial.
Em nota, o comando geral da PM informou que nenhum quartel de Santa Catarina possui celas para acomodar presos, mas sempre atendeu às demandas impostas pela Justiça. Disse que o tratamento dado à Mota é o mesmo de outros detentos que estão em prisão militar e lembrou que o pedido para cumprimento da pena no quartel partiu da defesa do ex-soldado e não da corporação.
O comando do batalhão em Joinville não quis se pronunciar. O advogado de Brentano, Leandro Nunes, negou que o ex-soldado tenha qualquer tipo de privilégio na prisão.
Homicídio triplamente qualificado
Mota foi denunciado por homicídio triplamente qualificado. Ele deve ir a júri popular, mas o julgamento ainda não foi marcado. Quem conhecia o surfista vive a angústia da espera.
“Acho que é importante para todo mundo. Tanto para o estado, quanto para a família, para todo mundo que sofreu a perda. Acho que é importante isso ter um fim agora, é fundamental”, disse o padrinho de Ricardinho.