“Junho Violeta” alerta para a prevenção do Ceratocone, doença que atinge a visão de adolescentes entre 13 e 18 anos
Associação Catarinense de Oftalmologia alerta população sobre problema que atinge até 600 pessoas a cada 100.000 e que não tem cura. Saiba como diagnosticar e tratar esta doença.
Em 2018 foi criada a campanha Junho Violeta, com objetivo de conscientizar e esclarecer à população sobre o Ceratocone, uma doença que afeta a córnea, deixando-a mais fina e menos resistente, conhecida também como distrofia contínua e progressiva e que não tem cura. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a cada 100.000 pessoas no mundo, de 4 a 600 delas desenvolvem a doença. A maior incidência ocorre na adolescência, entre os 13 e 18 anos de idade e, em geral, afeta em 90% dos casos ambos os olhos, tanto em homens como mulheres. Entre os sintomas estão: fotofobia, irritações, ofuscamento, embaçamento e distorções moderadas.
O avanço desta doença – e o desconhecimento por parte da população – preocupa a Associação Catarinense de Oftalmologia, que alerta sobre os sintomas e destaca as formas de tratamento e prevenção. “Na maioria dos casos, as pessoas não percebem que possuem a doença, pois esta aparece disfarçadamente, sendo comumente confundida com miopia ou astigmatismo. Ainda não se sabe a causa da doença, mas acredita-se que seja de origem hereditária e resulte de diferentes condições clínicas”, destaca o dr. João Artur Etz Jr., presidente da entidade. Ele reforça que os filhos de portadores do ceratocone devem ficar mais atentos e que a principal causa da doença é o ato de coçar os olhos.
O sinal mais característico é a perda progressiva da visão, que se torna borrada e distorcida, tanto para longe quanto para perto, o que obriga a aumentar com frequência o grau das lentes. Em caso de suspeita da doença, o diagnóstico é feito por meio do exame oftalmológico e confirmado pela Topografia Corneana Computadorizada (fotoceratoscopia), que faz um estudo topográfico da superfície da córnea e permite obter informações quantitativas e qualitativas por meio de um gráfico numérico e de cores. “O diagnóstico precoce da doença não impede a evolução dela, porém quanto mais cedo o ceratocone for identificado, melhor será o resultado do tratamento. Por isso, é fundamental que se realize consultas oftalmológicas periodicamente”, ressalta o dr. João Artur Etz Jr.
Como é o tratamento do ceratocone
Apesar de ser uma doença sem cura, há vários tratamentos disponíveis para melhorar a visão do portador da doença, estabilizando o problema e reduzindo as deformidades da córnea. “O tratamento adotado depende da evolução do caso. Na maioria das situações, o problema é solucionado por meio da adoção de óculos, lentes de contato ou cirurgia. Segundo estatísticas, apenas 10% dos casos evoluem para transplante de córnea”, destaca o presidente da Associação Catarinense de Oftalmologia.
Em casos mais brandos, o tratamento inicialmente é feito com a adoção de óculos. Também é possível utilizar lentes de contato para recuperação visual, pois eles substituem a superfície irregular da córnea por uma regular, melhorando a percepção das imagens. Como reforça o Dr. João Artur, “a indicação do modelo de lente a ser usado é feita pelo oftalmologista, que analisa o desenho mais apropriado para o estágio da doença do paciente. Fique atento, lentes mal adaptadas podem favorecer a progressão do ceratocone e causar perdas de transparência na córnea”.
Cross-Linking, anel intracorneal e transplante de córnea
Há também outras formas de tratar o ceratocone, de acordo com a necessidade do paciente ou o grau de evolução da doença. O Cross-Linking, por exemplo, é um tratamento por meio do qual se expõe a córnea a uma combinação de radiação ultravioleta (UV-A) e vitamina B2, produzindo um aumento nas ligações entre as fibras de colágeno, fortalecendo toda a estrutura da córnea. A função deste tratamento não é reduzir o ceratocone, mas evitar sua progressão.
Para os pacientes que estão no estágio moderado do ceratocone, o tratamento indicado é o implante cirúrgico de anéis intracorneais ultrafinos, que funcionam como um esqueleto que remodela e diminui a curvatura da córnea, tornando sua superfície mais regular. “É uma técnica reversível, e também no pós-operatório os pacientes podem necessitar lentes de contato ou óculos para correção de graus residuais”, explica o presidente da Associação Catarinense de Oftalmologia.
Indicado apenas como último recurso, em pacientes que apresentam ceratocones em estágios avançados, o transplante de córnea consiste na substituição de toda (transplante penetrante) ou de parte (transplante lamelar ou endotelial) da córnea. “Apenas uma minoria dos portadores da doença necessita fazer o transplante, que embora tenha uma recuperação mais lenta se comparado aos outros tratamentos, oferece uma importante melhora no quadro”, ressalta o médico.