Mais de 800 famílias convivem com a falta de vagas nos CDIs de Gaspar
Daniani Regina Wessler da Motta, de 26 anos, e faz parte de uma das 843 famílias que estão na fila por uma vaga em um CDI de Gaspar. Mãe de Maria Fernanda, de sete meses, ela espera há quatro meses por uma vaga no Centro de Desenvolvimento Infantil Vovó Lica, que fica próximo a sua casa. Ela é a 43ª na fila.
A mãe trabalha como manicure e arrumou uma saída para a situação: levar a filha junto para o trabalho. “Vou trabalhar quando tenho cliente marcada, para ela não ficar frustrada de estar lá a todo o momento. Coloco ela no bebê conforto, ao lado da minha mesa, e, enquanto atendo, dou brinquedos para ela se distrair ou coloco desenho para assistir. Mas agora ela começou a engatinhar e não quer mais ficar sentada. Ela quer espaço para brincar e não posso soltar ela pelo salão, porque tem cabelos no chão e muitas pessoas andando. Lá é meu local de trabalho e não um lugar para criança brincar”, diz. Apesar de toda a situação, as colegas de trabalho de Daniani entendem a realidade e tentam colaborar. “Tem momentos em que estou trabalhando e a Maria Fernanda fica muito brava. As meninas que trabalham comigo me ajudam muito quando podem, mas essa situação é muito complicada”, desabafa.
Para tentar amenizar a situação e não ter que levar a filha para o trabalho, Daniani já tentou trabalhar como costureira em casa, mas a experiência não deu certo. “Ainda tenho a máquina em casa, mas até agora não consegui fazer quase nada. A Maria Fernanda tem medo do barulho, que é alto. E quando ela dorme, logo também acorda por causa do barulho da máquina”, justifica.
Outra saída estudada pela mãe foi colocar a filha em uma creche particular. Aí, porém, surgiram as questões financeiras. “Temos que pagar matrícula e mensalidade adiantada, e sem trabalhar direito, como vou fazer isso? Acho que os políticos não estão dando a atenção que a educação merece. Nossa cidade precisa de mais creches com urgência”.
Os números da educação
Os 15 CDIs da rede municipal de ensino de Gaspar não dão conta da demanda de crianças da cidade. Hoje, 2.906 crianças frequentam esses educandários e eles, juntos, registram uma fila de espera de 843 crianças. Toda a fila é composta por crianças de 0 a 4 anos e, segundo a secretária de Educação de Gaspar, Zilma Benevenutti, todas as crianças de 4 a 5 anos da cidade são atendidas.
Para solucionar este problema que afeta muitas famílias, foi criada a Comissão de Ações para a Educação Infantil. O grupo está buscando dados para saber como são feitas as matrículas em outros municípios, com o objetivo de ampliar o número de vagas em Gaspar. “Outra ação da Secretaria de Educação junto à Comissão foi a realização de um levantamento de frequência das crianças matriculadas. Isso para que se possa abrir novas vagas onde a porcentagem de frequência é baixa”, explica.
No início deste ano, algumas turmas de pré-escolar dos CDIs foram remanejadas para as escolas. A ação resultou em um acréscimo de 200 vagas nos CDIs. “Estamos nos empenhando, sem medir esforços, para aumentar o número de ofertas de vagas em CDIs, buscando garantir o direito das crianças”.
Situação é antiga
Há alguns anos o Cruzeiro do Vale vem noticiando a falta de vagas nos CDIs de Gaspar. Uma matéria de 2010 apontava a cidade com um déficit de 600 vagas. Naquele ano, 2.308 crianças eram atendidas na educação infantil em Gaspar. Ao longo dos anos, a construção de novos CDIs e a reforma dos já existentes não fizeram com que este número diminuísse. Em 2014, Gaspar somou 2.843 crianças usufruindo das vagas em Gaspar e uma fila de espera de quase 700 pais. Dados de 2014 apontaram que 95% da lista era composta por crianças de 0 a 3 anos.
Há pouco mais de um ano, em março de 2016, o Cruzeiro do Vale publicou, mais uma vez, uma matéria sobre a fila de espera por vagas nos CDIs de Gaspar. Naquele ano, o número diminuiu e foi para 544. Agora, passados 16 meses, esse número subiu para 843.