“Nos sentimos usados”, diz presidente da OAB sobre catarinense que planejou ser preso na Venezuela

0

“Nos sentimos usados”, diz presidente da OAB sobre catarinense que planejou ser preso na Venezuela

O vídeo em que o catarinense que permaneceu 11 dias detido na Venezuela afirma ter “premeditado” a prisão provocou reação, especialmente entre as entidades acionadas para auxiliar no delicado esforço diplomático feito pela libertação dele. Presidente da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em Balneário Camboriú (OAB), o advogado Juliano Mandelli comentou a situação nesta quinta-feira:

— Nos sentimos usados, assim como muitas outras pessoas — afirmou.

Além de ter participado ativamente da movimentação pela liberação do catarinense, a entidade teve a sede utilizada para uma coletiva de imprensa, promovida por uma ONG, em que o vídeo foi apresentado. Mandelli ressaltou que a OAB não teve participação nesse evento, e que apenas cedeu o espaço após ter recebido um pedido através de protocolo.

— Tradicionalmente cedemos a sala para a comunidade. Mas nos surpreendeu por ter parecido um ato de promoção pessoal, não era o que aparentava — disse.

No início da tarde a Comissão de Direitos Humanos da OAB em Balneário Camboriú, que participou ativamente dos trâmites para liberação do catarinense, emitiu uma nota de repulsa. “Mais que desprezível, classificamos essa atitude como egoísta, vaidosa, irresponsável, desnecessária e desrespeitosa com centenas de pessoas dos dois países que, anonimamente, envidaram esforços para preservar sua integridade física, e obter sua libertação”, afirma o documento.

A nota chama atenção, ainda, para o esforço diplomático que envolveu a prisão. “Classificamos como inadmissível que alguém, seja quem for, propositalmente aja no sentido de agravar uma crise diplomática já existente, sem levar em consideração as consequências de seu ato. Não acreditamos que de uma mentira seja possível nascer algo capaz de fazer o bem às pessoas, e mais que isso, não acreditamos que alguém que seja capaz de tamanha irresponsabilidade, tenha condições de cuidar de quem quer que seja”.

A Comissão defende que as responsabilidades sejam apuradas.

O anúncio da prisão ocorreu poucos dias após a crise institucional entre Brasil e Venezuela agravar, com a “expulsão” recíproca de embaixadores. O Itamaraty ainda não se manifestou sobre as afirmações do catarinense.

Leia a nota na íntegra:

A COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA 15a SUBSEÇÃO OAB – Balneário Camboriú-SC, acerca do episódio envolvendo a prisão e libertação de Jonatan Moisés Diniz pelo Governo da Venezuela, e também acerca da reunião realizada ontem, 10 de janeiro, convocada por sua ONG, cujo o anúncio propagandeava, além da oficialização DAQUELE coletivo, esclarecimentos sobre a prisão e libertação do Jovem. A CDH, com vista a dar uma satisfação a todos aqueles que foram instados por ela para auxiliar na resolução deste incidente, MANIFESTA-SE nos seguintes termos:

Causou-nos repulsa a manifestação de Jonathan prestadas no vídeo enviado pelo mesmo, de que sua prisão teria sido premeditada, e que tinha como intuíto, chamar a atenção do mundo para as mazelas sociais que ocorrem na Venezuela, bem como, convocar as pessoas a ajudar sua ONG. Mais que desprezível, classificamos essa atitude como egoista, vaidosa, irresponsável, desnecessária e desrespeitosa com centenas de pessoas dos dois países que, anonimamente, ENVIDARAM esforços para preservar sua integridade física, e obter sua libertação. Pessoas que compõem os corpos diplomáticos dos dois países, OAB em todas as suas esferas, imprensa, ONGs sérias, dedicadas à preservação dos direitos humanos, e principalmente os profissionais que prestam serviços ao governo venezuelano, que colocaram em risco sua credibilidade e seus negócios com aquele país, tudo com vistas a trazer Jonathan de volta para casa, em segurança.

Classificamos como inadmissível que alguém, seja quem for, propositalmente aja no sentido de agravar uma crise diplomática já existente, sem levar em consideração as consequencias de seu ato. Não acreditamos que de uma mentira seja possível nascer algo capaz de fazer o bem às pessoas, e mais que isso, não acreditamos que alguém que seja capaz de tamanha irresponsabilidade, tenha condições de cuidar de quem quer que seja.Tais fatos devem ser elucidados, com a apuração do grau de responsabilidade do seu causador, bem como, se há envolvimento de terceiros, que também devem responder por seus atos, caso comprovada tal premissa.

Por fim, essa Comissão aproveita a oportunidade para apresentar suas escusas às pessoas e instituições dos Brasil e da Venezuela indevidamente importunadas para auxiliar na resolução deste incidente, porém, reiterando seu compromisso de seguir defendendo os Direitos Humanos, por mais adversas que sejam as condições para isso.

Balneário Camboriú, SC, 11 de janeiro de 2017. COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA 15a SUBSEÇÃO OAB/SC