Em um momento em que o Brasil passa por um período de declínio social e moral, com políticos e lideres religiosos (leia-se “evangélicos”) envolvidos em crimes de lavagem de dinheiro e indiciados pelo Ministério Público, a perda de figuras emblemáticas como a do Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016) abre um grande vácuo progressista no Brasil e no mundo.
Dom Paulo Evaristo Arns deixa um legado de lutas, de enfrentamento das injustiças sociais, dos opressores. Sua morte, na última quarta-feira (14), foi uma grande perda, embora seu legado permaneça entre os que lutam por um país melhor, mais democrático e participativo. Arns compreendia a alma do povo, do pobre, do dito “favelado”. Ele surpreendeu seus pares ao almoçar ao lado de leigos, de irmãos. Deixou o Palácio para andar entre os “periféricos”.
Arns foi incisivo em sua luta contra os desmandos do regime militar brasileiro, na abertura de suas igrejas para o acolhimento de perseguidos políticos. Jornalistas, intelectuais, sindicalistas, artistas encontraram no arcebispo um apoio, uma base de resistência contra os golpistas de 1964. Acima de tudo, Arns foi um exemplo de pastor comprometido com suas ovelhas, com os que buscavam um refúgio em meio ao caos e a opressão do regime.
Arns deixa um legado progressista, de apoio ao Concílio Vaticano II, de abertura da Igreja ao mundo. Foi um incansável defensor dos direitos humanos, da liberdade de expressão, do gênero feminino, do negro e do pobre. Mas também era um conciliador, um apaixonado pelo Evangelho. Permanece o legado, o exemplo a ser seguido por todos os cristãos. O tradicionalismo deve ser superado por uma visão progressista de mundo, de sociedade.
Arns compreendia está grande verdade.