Era seis horas da manhã quando o som dos portões do rancho rompeu o silêncio na tranquila Praia de Taquaras, em Balneário Camboriú. Poucos homens observavam o mar, com feições confiantes, às vezes apreensivas e conversavam sobre amenidades enquanto o vento frio invadia a orla ainda escura.
O cheiro de café fresco que a pequena casa de madeira exalava anunciava uma nova pesca na alvorada. Desde o último domingo, quando a captura da tainha está liberada para eles, pescadores artesanais dedicam boa parte de seu tempo para o mar. Mais homens se aproximavam, enquanto outros deslizavam um dos barcos do rancho em direção ao mar.
Paciência e respeito. A generosidade do mar condiciona o exercício da tradição. Com os barcos já preparados na faixa de areia, olhares atentos tentavam captar qualquer sinal de um possível cardume.
Os primeiros raios de sol não ofuscaram a vista dos pescadores e a areia fofa não impediu que eles corressem em direção às embarcações assim que um peixe saltou no horizonte. Em poucos instantes um barco já preparava o cerco e mais homens surgiam dos caminhos estreitos da restinga, alguns com uniformes e a caminho de seus empregos. Neste momento, as tainhas passam a fazer parte do trajeto até o serviço.
Com as redes na água e as faces iluminadas pelo sol, a puxada começa. Mais de 60 mãos se empenham em receber o presente que o mar ofereceu. Aos poucos as boias encostam-se à areia, a malha começa a emergir e finalmente os peixes chegam até a praia.
Alguns homens prontamente começaram a recolher as redes e os barcos, outros faziam a contagem. Os que interromperam a manhã para ajudar receberam um peixe como gratidão e seguiram. Os pescadores da Praia de Taquaras permanecem na praia com o dia já amanhecido e o ciclo recomeça, olhos vigilantes e pés dispostos, assim como fizeram tantas outras gerações anteriores.
Fotos e texto por Lucas Correia